© Roy DeCarava Graduation (1949)
Sou a Cidade no homem. Visto-me de prédios, porto colinas como ancas ou mamilos, uso árvores na pele, tenho contentores como furúnculos. À noite, exibo as minhas mais pobres jóias: semáforos, candeeiros, montras, coruscações lunares fluindo à flor do Rio. Expilo emanações febris: fogos-fátuos da Conchada, canaviais do Bolão, horas da Cabra, gerações e gerações de feirantes do Espírito Santo e da Rainha Santa, que de Aragão veio para deixar um coto de braço mumificado e uma braçada de rosas em vez de pão. A amásia Inez chora sangue pela boca e por mim. Sou a Cidade no homem que entra no Palácio da Justiça, que outrora foi Colégio de S. Tomás, para se demorar ante os painéis de Jorge Colaço. Empresto-me aos vivos – como deles me empesto. Que alma multitudinária posso ’inda exercer? Que burguesinhos cevarei a malgas de rancho e a tabuleiros de arrufadas? Mais bem me conhecem as putas do que os vereadores. Teço e estendo, para elas, incontáveis e não contadas vielas. Doença e convalescença rimam-se-me. E fui já Aeminium, não destes vivos, mas de ignotos remo(r)tos homens e mulheres.
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