Somos os homens na Cidade. Também as mulheres são os homens na Cidade. Da janela, assistimos ao lusco-fusco dos outros que nós somos: sósias de siameses. O senhor que vai ao contentor despejar o lixo. A senhora atrelada ao terrier mimadíssimo. O vendedor que não vendeu tostão o dia todo regressando a casa como o boi da nora ao estábulo pelo crepúsculo. O maluco das quarenta e duas esferográficas no bolso da camisa que tem a felicidade de não saber – nem precisar de – escrever.
Escrevo, eu escrevo. Preciso de, tenho de. Se não, como me seria a Cidade? Com tinta e papel seguro os mortos no chão. Com este e aquela, atiro aves aos ares. Do Tovim, de Chão do Bispo – chegam as névoas-fumaças das seis da manhã, ainda hoje as vi, à varanda, desperto sem retorno para a segunda-feira.
Olha, estamos vivos. Mas somo-lo? Minúsculos vasos de serotonina nos são as cabeças hidroeléctricas. Logradouros juncados de tabuada, de três ou quatro palavras francesas, de lapelas com nódoas de sopa, de provérbios vãos, feliznatal e muntassaúde, de actos, ratos, tratos, retratos e rectractos contratos, de estojos de óculos sem óculos dentro, de boinas, de mais chinelos, de cachecóis, de meia-mão de anedotas, de recibos da farmácia, de fósforos usados e de dias felizes por usar – somos. Depois, des-somos e descemos.
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