Foto: © Sandra Bernardo, Viseu, tarde de 26 de Julho de 2008
Quadras: Viseu, casa, tarde de 26 de Julho de 2008
As mães viram-se do avesso para que sejamos.
Elas fizeram aquela coisa com algum homem.
Esperamos todos que se não tenham despido todas.
Que o suplício lhes tenha sido breve, já que não leve.
As mães andam na rua e nunca mais foram as mesmas.
Elas animam o comércio e as janelas como vasos comunicantes.
Se não fosse por elas, nenhuma guerra nos faria voltar.
Voltamos e alguém no-las levou, manhã cedo.
As mães participam de coisas para além da física-química.
As que fumam, vêm ao quintal contar as estrelas nocturnas do verão.
Têm todas cauda, todas são caudalosas, manam como rios longos
e muito estreitos, como a angústia na etimologia primeva.
As mães prevêem a chuva com uma pedra na mão.
Elas andam com fotografias cor-de-cinza nas carteiras encarnadas.
Não têm tempo para olhar os barcos em maio, lá onde dormem.
Querem dizer-nos algo e a voz não lhes desce da garganta.
As mães são a única sombra das savanas.
Elas bordam teias que emaranham fábricas desactivadas,
estações de tratamento de águas e resíduos, elas são
os bichos-da-seda casulados nas carruagens ferroviárias.
As mães são os cavalos menos ilusórios do monte.
Dá-lhes o vento na cor e elas correm, as caudas gráficas
empinadas de uma mocidade fibrosa, aerodinâmica, retratista.
Apartam o sal e a merda, as flores de comer e os cheiros do corpo.
As mães nunca iludiram a polícia nem os médicos.
Elas exercem a partir de ministérios invisíveis ao sol.
Só dão de si quando a prata lunar se torna refractária.
E digitam de cor os mapas da fruta, entre cheias de inverno.
As mães podem nunca ter voltado das mães delas.
Cruzes de fogo bermam delas os caminhos montanhosos.
Elas contam raposas onde vêem lobos: nos leitos
das filhas e das mães delas.
As mães são territórios para uma altanaria de galgos.
Folheiam as latas do lixo para que nós enciclopédias.
As mães desfloram as santidades mais corruptas.
Mas nem todas são putas.
Elas fizeram aquela coisa com algum homem.
Esperamos todos que se não tenham despido todas.
Que o suplício lhes tenha sido breve, já que não leve.
As mães andam na rua e nunca mais foram as mesmas.
Elas animam o comércio e as janelas como vasos comunicantes.
Se não fosse por elas, nenhuma guerra nos faria voltar.
Voltamos e alguém no-las levou, manhã cedo.
As mães participam de coisas para além da física-química.
As que fumam, vêm ao quintal contar as estrelas nocturnas do verão.
Têm todas cauda, todas são caudalosas, manam como rios longos
e muito estreitos, como a angústia na etimologia primeva.
As mães prevêem a chuva com uma pedra na mão.
Elas andam com fotografias cor-de-cinza nas carteiras encarnadas.
Não têm tempo para olhar os barcos em maio, lá onde dormem.
Querem dizer-nos algo e a voz não lhes desce da garganta.
As mães são a única sombra das savanas.
Elas bordam teias que emaranham fábricas desactivadas,
estações de tratamento de águas e resíduos, elas são
os bichos-da-seda casulados nas carruagens ferroviárias.
As mães são os cavalos menos ilusórios do monte.
Dá-lhes o vento na cor e elas correm, as caudas gráficas
empinadas de uma mocidade fibrosa, aerodinâmica, retratista.
Apartam o sal e a merda, as flores de comer e os cheiros do corpo.
As mães nunca iludiram a polícia nem os médicos.
Elas exercem a partir de ministérios invisíveis ao sol.
Só dão de si quando a prata lunar se torna refractária.
E digitam de cor os mapas da fruta, entre cheias de inverno.
As mães podem nunca ter voltado das mães delas.
Cruzes de fogo bermam delas os caminhos montanhosos.
Elas contam raposas onde vêem lobos: nos leitos
das filhas e das mães delas.
As mães são territórios para uma altanaria de galgos.
Folheiam as latas do lixo para que nós enciclopédias.
As mães desfloram as santidades mais corruptas.
Mas nem todas são putas.
1 comentário:
Da última vez que vim a este cenário da foto foi para comprar pêssegos vermelhos, está a fazer ou já fez um ano. A compota, impecável, ainda dura.
E li as quadras.
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