© Garry Winogrand
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Segunda-feira,
27 de Dezembro de 2021
Também flatulência é fluência.
Posto isto, sigamos.
Os que papagueiam acefalamente que “uma imagem vale mil palavras” – necessitam de palavras para dizê-lo, imaginem…
Sosseguemo-nos, todavia: o Nada de que viemos, a Nenhures nos há-de levar.
Hoje, preterizado já o infame natal-de-todas-as-hipocrisias, dei-me (ou vi-me) de novo presa de conjecturas sobre que livro(s) escreverei na próxima anúria, se lá chegar. Tentarei resistir ao apelo diarístico. Lográ-lo-ei porém? Sei uma coisa já: a alternância prosa/verso não cederá vez a qualquer outra rabiscanhice. Só posso ir por ela. Só quero ir por ela. Enquanto se me/nos não dá por adventício o 2022,
Certo pinheiro-manso, em certo pátio,
secreta ave que alberga às escondidas.
Ser Eu é ser nuvem, não é ser sítio:
já nome de Eu tiveram muitas vidas.
Sei ínfima a gravura entendida
por o humano olhar mais absorto.
Viver, sendo entreter a própria vida,
só escapa ao morrer depois de morto.
’ma lâmina de sol de fura-nuvens
’mana de Santa Clara a ocidente.
E eu só sinto pena daquela gente
que ladra ao onde-vais & ao donde-vens.
Raparigas de há sessenta anos
lendo cativas a Corín Tellado:
o mesmo fiz eu, sendo ’inda magano,
lendo o Eugénio & o Torga aqui ao lado.
(...)
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