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Quarta-feira,
29 de Setembro de 2021
Quem do exterior (ou seja: toda a gente mais alguma) me observar a lentidão de gestos & manobras, bem, erra (um bocadito) se concluir tratar-se de alguém filosoficamente dado à ponderação. Posso garantir a tais mirones ser nada disso. Trata-se, antes, de envelhecimento, impuro & simples escaqueiramento ósseo-muscular, muita fibra esguichada a ácido-láctico, ponderação é que não, nicles & nada. Ou quase nada.
Ponderei isto agora que, na tarde maravilhosa & coimbrã, descanso penates em rua propícia. Frio nenhum – mas também nenhuma caloraça abafadiça. A luz é a mor aguarela de si mesma. Ajuda à missa a benfazeja brisa, que perfuma de pele de rio o acto respiratório.
Trouxe-me às ruas uma previdência afinal malograda – mas amanhã é dia também, acaba-se Setembro mas, julgo, não ’inda a vida. O meu lento lápis aflora espécie contente de levíssima amargura. São (por ora) as 17h25m – e até aqui dei o dia a circum-navegações retrospectivantes de percurso. Meu, naturalmente. Não é brilhante a retrospectivação – ou dela os resultados parciais. Mas todavia porém & no entanto: sempre disponho da Língua Portuguesa, salvação maior – se não única – do dito percurso & do subentendido percorrente.
Certa funda fadiga íntima não é desmentível. Verdade. Não é desmentível. É tão humana quão recorrente. Trata-se, a meu ver, daquela pessoa “saciedade antecipada na asa de todas as chávenas”. Universal saciedade. E eu, havendo começado este texto por certa ilusória aparência de ponderação, não deixo, ainda assim, de ponderar o meu bocadito. É aliás menos solipsista que de costume, o de hoje alinhavar. Razão disto: é deveras bela a jornada. Às 18h01m, não dá sinal de falência o grande ouro da luz coimbrã. Frente à Rodoviária, até a pobre gente transitária & transitória parece assimilar a ínclita egrégia grandeza da hora afinal anónima.
Afinal anónima qual qualquer mortal que se preze. Tenho logrado algum saber no que a anonimato concerne. A anonimato & a frivolidade de aparência(s). Uma pessoa aprende – queira-o ou não, almeje-o ou não, valide-o ou não. “(…) a interrogação define a nossa livre condição (…)” – escreveu-o afinal (inicial) Ruy Belo em Transporte no Tempo, livro ocluso, por assim dizer, nos escaninhos não-escarninhos dos iniciados nisto de vencer perdendo sempre como antigamente o Sporting Clube de Portugal & ainda hoje o Partido Comunista Português.
Um tempo de pessoa-individual vale bibliotecas ilegíveis. Manipular adentro alguns recuerdos, sim, subsidia alices, países & maravilhas. Já Sófocles, esse é outro berbicacho. Releio em ácido-láctica lentidão. Aquilo é poesia-de-situação: como o xadrez urdindo epos. (É pois!)
Mas esperai:
(...)
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