10/10/2021

PARNADA IDEMUNO - 794

© Andrew Wyeth


794

Domingo,
10 de Outubro de 2021

    No ano do nascimento de J.D. (1948), Andrew Wyeth pintou a tela Christina’s World. O primeiro destes acontecimentos data do Outubro de então. Não sei o(s) mês(es) do segundo. Sei que também por ora se faz & desfaz Outubro. O Sol radia largamente num mundo que não é já o de Christina, não este pelo menos. No quarto da livralhada, a máquina toca as Goldberg-Variationen de Bach. O cenário é tranquilo. Chama-se Domingo. Para amanhã, tenho agendada uma surtida à Sá da Bandeira. O Gatito fica umas horitas sozinho. De momento, todavia, o belo bicharoco vai tosquenejando à contraluz dos cortinados amarelos, muito gosta ele de ali marrucar. Também eu gosto muito de, à tarde, me deixar canear sem futuro, certas vezes em que o sono da noite foi mais esfarrapado. As pálpebras põem-se pingando mel (ou remela, vá). A lassidão põe-se alontrando o corpanzil. O que era vigília, passa a lanterna-mágica. Vivos & mortos irmanam-se, deixam de ser, uns água, azeite outros. Some-se a tridimensionalidade. Espaço & Tempo volvem-se poças de éter sem zénite nem nadir nem antes nem depois. As figuras sonhadas são da mesma imaterialidade das ilustrações do jornal que a rapariga de Renoir lê em 1880. Põe-se o irreal a nevar. Não é fenómeno factício, pois que nasce do desejo. O Sol é aqui de outra índole. Sempre meã, a noite não pergunta hora. É engraçado dizer estas coisas sem ser em verso mensurado. São íntimas & universais ao mesmo tempo. Têm milénios & tempo-algum. Não são coisa de que por aí se dê nova. Como nascer em pessoa (J.D.) ou em tela (Christina).

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