04/10/2021

PARNADA IDEMUNO - 784

 

©  W. Eugene Smith



784

Domingo,
3 de Outubro de 2021

    Efeméride instantânea, cada momento vital debate-se entre adversas forças/tendências: obliteração & persistência, olvido & inscrição (ou, esta última, gravação). A vida é simultaneamente Alberta & fechada. Como Ângelo Valido Galante Bizarro, como Ricardo Colina Canha Muñoz – como estes dois, também eu faço & pugno & me descalabro & me reergo. E como eu e como eles ambos, assim toda a gente enquanto a morte não sela arcas & cartas. Joga-se (toda a gente joga) a perfeita inutilidade, a rotunda irrelevância – mas também certa aposta obstinada, certa demora pragmática. É pois da maior naturalidade a continuidade, aliás relampejante, das duas – e não uma só – eternidades: a do Pretérito, que convém vasculhar no intuito de lhe surripiar as pérolas, & a do Porvir, a qual, incluindo a morte física, muda de jogadores mas não de jogo. Digamo-lo porém de diverso, em verso, modo:
    De álamos, alamedas em conspiração sombria
    enriquecem o lavor luminoso, diamantes por entre folhas.
    Odorífera, carregada de doçura (de doçura & de fruta),
    a pessoa-ainda-infante já joga, saiba-o ou não bem.
    Constrangimento social não tem aqui tempo nem lugar.
    É o rapazito Ângelo? O menino Ricardo? Um que eu fui?
    A alameda existe – como o ardil de diamantes farolins.
    Não se trata de matar mas de deixar morrer.
    Trata-se de deixar ir, de ficar sozinho no cais.
    Quando o ex-infante se vê adolescente, então tem o mundo na barriga antes de ter estômago para ele.

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Canzoada Assaltante