© Ingarden.pt
10.
PASSAR HOJE
Coimbra, sábado, 1
de Fevereiro de 2020
I
Passei
hoje pela extinta Rua da Nogueira, Coimbra,
uma
vez mais & ainda soletrei a evidência passageira,
ali
nos anos 40/XX dormiu uma noite o meu Pai,
essa
casa sobe agora na transparência mais obscura,
é
bem talvez ir ’inda passando por onde
quem
memória já não pode por extinto,
dei
pão farto às muitas pombas do Bot’Abaixo
–
e fui talvez feliz por de lembrança remanescente.
Foi
mais cedo (é mais cedo tudo o que vale?),
eu
tinha de renovar o passe munícipe-transitário,
paguei
a moeda à industriosa instituição,
fui
talvez feliz dispondo a moeda, caçando o cartão,
quem
enfim hoje caça amanhã se cassa,
é
modo de dizer, não obriga tradição.
casquina-se
enquanto há boca & saúde,
assim
hoje foi, nem deus nem perdão.
(II)
(...)
(III)
(...)
11.
QUE DEUS
TE GUARDE A PRECAUÇÃO
Coimbra,
sábado, 1 de Fevereiro de 2020
(...)
12.
DUAS SERENAS
Coimbra, domingo, 2
de Fevereiro de 2020
I
Serena
marcha a hora-laranjeira
do
crepúsculo trepador nocturno.
Os
de nós ’inda vivos assentamos
os
ossos próprios na duração restante.
Caladamente
damos curso ao ir-sendo:
quem
sofre, fá-lo em retórico silêncio.
Mesas
quadradas, madeira, metal & mármore:
bebedouros
individuais, cada um a cada uma.
Hoje
ao menos aqui não, somos de deix’andar.
Serenamos
sem despesa verbal, ninguém sonha.
Ninguém
sonha, ninguém projecta, ninguém espera.
Linhas
aviónicas traçam o derradeiro azul.
O
limoeiro da Vivenda Jeremias respira alto.
Ninguém
s., ninguém p,. ninguém e.
II
A Ruy, de facto
Belo
Por
sabê-lo morto em 1978,
comove-me
mais lê-lo em 1973, por exemplo.
Não
se trata de comoção choramingueira, notai.
Trata-se
de comoção ominosa, chuva-no-(m)olhado.
Guardei
moedas, saí de casa pela tardinha.
O
mundo dominical não oferece grande pugna.
Lentos
animais meus homólogos rondam o nada.
Estamos
em democracia, morrer é equânime.
Leio
em 2020 o 1973 que sei 1978 & 1933.
Aplaco
em serenidade a comoção honrosa.
Gostaria
de vê-lo antiguecido, próspero, acalmado.
Não
é possível. Agosto/78 foi terminante.
Fevereiro/20
é similar utopia ledora.
Os
de nós ’inda vivos assentimos.
13.
NA LINHA-T.-Z.-Z.
Coimbra, domingo, 2
de Fevereiro de 2020
Coimbra
é onde impero sobre os demais nenhures
em
que vida hei causticado sem já remédio.
O
desvario d’olhos foi além-nenhures:
mas
ora sou de volta, daqui arcádio.
Isto
é tudo meu, que me foi dado
por
homem & mulher já hoje extintos.
Ao
púbere Botânico orvalhado,
sucedo,
sendo velho, íntimos ínfimos recintos.
Ao
de agora turismo, mal não hei:
preferiria
embora mais sossego
–
luzes a gás-d’azeite – e haver rei,
e
dobrar a Cabra susto morcego.
Conheço
a rua, tão nua ao relento:
sou
d’aqui como o fruto q’houve de flor.
Ao
Largo das Ameias, vai o Sarmento;
à
Sofia, o Antero Adamastor.
Tremelic’tropeço,
envelhecendo
sem
a grácil velhice avoenga,
dessa
mesma a que eu, pertencendo,
sou
linha-terminal-zinga-zenga.
Sem comentários:
Enviar um comentário