29/03/2020

VinteVinte - 14



                                                 © Ansel Adams
                                                            
Aspens, Northern New Mexico
                                                        1958




14.

QUEM NOS CATIVA

Coimbra, sábado, 8 de Fevereiro de 2020



Secreta força enfim se foi juntando,
alinhando em mim as necessárias
várias palavras tintas – e, sangrando,
vêm ora fulgir linhas etéreas.
Vias, veios & veias calendárias
(que eu em agenda anoto há muitos anos)
já querem dar-se à luz em rimas sérias,
já ferem dobrando os brônzeos sinos.
E q’o mais for, q’tão venha à surpresa
– que hei-de eu supri-la em força & beleza.

Já Janeiro se foi, Dezembro ido,
sinais de tinta de efémero papel:
sou tratado por o vocativo do falecido
senhor-meu-Pai que era senhor-Daniel.
E Fevereiro traz certa dolência,
incerta areia-praia sem mar-alto:
se indulto não vier, pois paciência!,
que morrer não é ’inda sobressalto.
E se sonho os mortos, eles são vivos
– que aos vivos têm eles por cativos.

Fevereiro fêvera febre fenecendo
traz ’inda traste verso a mim rimando:
alegria de pobre – versejando
q’em verso beleza dá de si mesmo.
O traste é ser triste-com-salário
não-respondente ao esforço do escravo:
e não saber o verso-calendário
que, roxo, dá em Janeiro o seu cravo.
E se sonho os velhos, rejuvenesço:
morrendo, ao menos já não mais cresço.

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Canzoada Assaltante