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14.
QUEM NOS CATIVA
Coimbra, sábado, 8
de Fevereiro de 2020
Secreta
força enfim se foi juntando,
alinhando
em mim as necessárias
várias
palavras tintas – e, sangrando,
vêm
ora fulgir linhas etéreas.
Vias,
veios & veias calendárias
(que
eu em agenda anoto há muitos anos)
já
querem dar-se à luz em rimas sérias,
já
ferem dobrando os brônzeos sinos.
E
q’o mais for, q’tão venha à surpresa
–
que hei-de eu supri-la em força & beleza.
Já
Janeiro se foi, Dezembro ido,
sinais
de tinta de efémero papel:
sou
tratado por o vocativo do falecido
senhor-meu-Pai
que era senhor-Daniel.
E
Fevereiro traz certa dolência,
incerta
areia-praia sem mar-alto:
se
indulto não vier, pois paciência!,
que
morrer não é ’inda sobressalto.
E
se sonho os mortos, eles são vivos
–
que aos vivos têm eles por cativos.
Fevereiro
fêvera febre fenecendo
traz
’inda traste verso a mim rimando:
alegria
de pobre – versejando
q’em
verso beleza dá de si mesmo.
O
traste é ser triste-com-salário
não-respondente
ao esforço do escravo:
e
não saber o verso-calendário
que,
roxo, dá em Janeiro o seu cravo.
E
se sonho os velhos, rejuvenesço:
morrendo,
ao menos já não mais cresço.
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