Palavras (pouco, nada) loucas
Trago hoje à colação um livro intitulado “Palavras Loucas”. Autor: Alberto de Oliveira. Que sejam eles, Autor e livro, a apresentar-se:
1- “Viu em seguida que a sua terra não era composta de maus, mas de ignorantes passivos.”
2- “Viu que os cavadores morrem na inconsciência absoluta de quem é o culpado da sua miséria; e que a corrupção de alguns, em vez de se fundar na corrupção de todos, se afunda apenas na ignorância de todos. É como uma casa onde há ladrões, mas não se dá por eles.”
3- “(…) neste ciclo humilhante e miserável para Portugal, de crise sem grandeza, de fome sem tragédia, de agonia sem desespero, pois toda a gente se deixa escorregar no pântano sem gritar alto a sua miséria, sem tomar atitudes que, ao menos, se lhe não salvarem a vida, lhe salvem a memória.”
4- “(…) tédios, fraquezas de ânimo, prenúncios de emigração, fomes no Douro, ruas de Lisboa cheias de mendigos, uma raça que apodrece, um povo de marinheiros idealistas que tropeçou ao dar com terra firme.”
5- “Somos um povo místico e supersticioso, atacado de febre das grandezas, e dela morrendo, como um poeta doido, vestido de sedas velhas no meio de um presépio de cabras.”
E:
6- “Nascer inteligente é má estrela, meu amigo – a não ser quando se nasce também mau.”
Pronto. Seis (ex)citações bastam. No rodapé desta crónica, lá no fundo mais fundo desta página terminal, ao meu leitor darei algo mais (e definitivo) sobre este livro. Entretanto, esclareço, claro-clarinho, que considero muito mais fácil superar a crise do que encontrar um polícia em Abrantes; ou um médico de família em Alpiarça; ou um republicano em Salvaterra de Magos.
Crise? Começou em 1143, este nacional túnel (ou túmulo, para cúmulo) sem luz nem ao cabo nem ao rabo. Somos o povoléu das sardinhas municipais e dos endividamentos assados. Nascemos mal, vivemos bonzinhos e morremos pior: não porque o queiramos mas porque nem querer sabemos.
Rodapé? Este: o ano da primeira edição de“Palavras Loucas” é 1894. Sim, século XIX ainda. Basta, todavia, deslocar o “I” do centro para o cabo (e o rabo) do “XX” para dar “XXI”.
E todos sabemos que este nosso XXI é um 31.
2 comentários:
Daniel, vai pó caralho mais o elogio do Alberto de Oliveira. Um idiota nacionalista. Foi escritor de algum destaque da geração romântica que se intitulou do Neo-Garrettismo. O «Palavras Loucas», que não passa de uma merdunça sentimentalona, mereceu a Eça, em carta ao autor de Agosto de 1894, as seguintes palavras: "(... ) Não lhe parece que o Nativismo e o Tradicionalismo, como fins supremos do esforço intelectual e artístico, são um pouco mesquinhos ? A humanidade não está toda metida entre a margem do do Minho e o cabo de Santa Maria - e um ser pensante não pode decentemente passar a existência a murmurar extaticamente que as margens do Mondego são belas!" (Correspondência; Porto; Lello & Irmão-, 1946, p. 251). Para mais à frente advertir, a propósito desta corrente estético-literária de sabor nativista, tradicionalista e cultora de um passadismo romântico: "Não, caro amigo, não se curam misérias ressuscitando tradições!" Não te contava ver, em mais este momento de crise e desânimo, do lado dos bacocos. Um abraço, amigo.
Ó Luís, mas eu sei isso tudo: o neo-garretismo, o Eça picado, o posterior integralismo lusitano do Antº Sardinha a capitalizar, etcetc. Eu sei, amigo. Mas aquelas frases davam-me e deram-um jeitão: atacar os direitismos atávicos deste povo com um gajo do lado deles, porreiro, pá.
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