22/11/2008

F. a História C.


© Sandra Bernardo
Peniche, 29 de Setembro de 2007





Souto, entardenoitecer de 22 de Novembro de 2008


Um homem conheço cuja tristeza toca a Lua.
É um inverso pára-quedista, por assim dizer.
Tem viajado por dentro de casacos em demanda:
de ventos coloridos como postais, de mulheres
furadas e brancas e metálicas como expositores
de postais.
Ele mesmo é, por assim dizer, ilustrado como
um postal.
A última vez que o vi, creio, foi
perto do Forte de Peniche.
Havia um incêndio para os lados últimos do mar,
era talvez o laranjal poente do costume.
Não sei dele.

Vim-me embora para aqui, o circuito comercial daqui
alberga cantoras negras
brother, can you spare a dime e fados afins,
gosto disto, por aqui também se toca muito a Lua.

Esta noite deve ser muito alegre porque é sábado,
as tristezas individuais juntam-se nos bares
e tornam-se, por assim dizer,
gregárias e gregorianas,
eu gosto de assistir a elas por dentro
do meu casaco.

Faz frio, os carros ruminam a sombra de olhos
mortiços, tudo fica por conta da escuridão mal
eles passam a caminho de suas luas domésticas
guardadas por cães naturalmente selenitas,
nas folhas do jardim o pó congelado aprisiona
as mariposas e a arte naturalmente poética
dos sodomitas dados à gosma e à gonorreia e
naturalmente à tristeza também.

Quando chego a casa, tenho estas coisas para dar
a ver, não é uma vida cor-de-rosa, a minha.

Faz hoje 45 anos que espetaram um ou mais balázios
nos cornos alegadamente católicos do djei éfe quei,
um senhor que se fazia passar por berlinense como
aquelas bolas açucaradas de creme amarelo que mulheres vendiam na praia ainda o Marcello Caetano nos conversava
em família.

Nisto, a Lua range como um fémur de violada
– e fica a história contada.

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Canzoada Assaltante