Casa, Souto, manhã de 28 de Novembro de 2008
Nunca as amámos nem amaremos como deve ser.
Elas sim a nós – e sucessivamente e a cada um mesmo
: como, a esmo, a folhas que, caídas, erguem o outono
do chão.
Fundimos a mãe e a concubina.
Chamamos-lhes mulheres, mal.
Deveria ser assim chamá-las
: lugar, lagar, paragem, garganta,
vaca, abelha, carmim, carne,
catarata, pomes, istmo, sufrágio,
vontade, cana, estrume, pevide,
rosa, chão, folha, outono.
Esquecemo-las em nome do pai.
Tornamo-las despojos da herança
: meia dúzia de cacos, o nome do meio abreviado,
uma praia de postal rasgado,
as gaivotas sumindo-se, pólipos ominosos.
Têm elas com Deus uma relação de criadas com o patrão.
Copulam com Ele, mudam-Lhe o óleo das barbas,
acendem-Lhe círios espermáticos, fazem-Lhe filhos,
remendam-Lhe as estrelas obsoletas do manto de mágico.
E nunca Dele dizem o Nome,
pois que também elas abreviam.
Nós entramos nos bares para arrefecer junto aos irmãos.
Comemos carne vermelha, integramos a corrente,
saltitamos de gelo em gelo, afloramos uma situação,
trocamos um pouco de cesário-verde por uma poupança-reforma,
cheiramos a cedro e a mijo de cão,
sabemos que os ciganos também têm mães mas desconsideramos
a evidência marxista da biologia,
um pouco de georges-duby por um pires de tremoços,
e quando a dor sobe à garganta
até telefonamos,
em dezembro
as chamadas para o além
custam menos
a passar
e
:rosa, chão, folha, outono.
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