Homem na Casa de Pasto
(Viseu, 2008)
(Viseu, 2008)
Pombal e casa, 24, 25 e 26 de Novembro de 2008
Algumas vidas são suicídios assistidos.
Uma das minhas quatro mãos
(a que saúda)
celebra todos os dias o ouro da luz
e a prata do peixe no mercado.
Algumas vidas são mãos,
uma de cada vez,
quatro a quatro.
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Dentro de ti está o teu coração,
dentro do teu coração está o cavalo
a que pertences.
Saúda-o.
Ele freme-te, ele é o vento feito couro.
Deves cavalgar, deves-te ser simultâneo areal
de tuas quatro mãos.
Não implorarás, não aluirás.
Dentro de ti mantém vivo o rapaz
que levas às festas no éter, na solidão
que pensa por ti dentro do teu anisado coração.
A glória e a graça pertencem, como tu, ao cavalo.
Arboriza-te em ouro vegetal.
Isto agora também já não demora muito.
Obliqua-te nas frias brisas, nos tépidos zéfiros.
Despenha-te em monção, em mistral.
Sê ambulatório arbusto da flora de Portugal.
Olha para mim sem ti:
este casaco povoado de corridas,
esta oftalmologia de anis,
esta crepitação tão cheia de misericórdia.
No coreto os soldadinhos tocam a música do chumbo,
tu sentes aquela eólica alegria dos desventurados,
à noite há fados no covil das minhocas,
frigem sardinha, servem caldo verde,
dizem mal da alegria e dos nascimentos.
A solidão do anis será legível muito mais tarde,
quando os lobos descerem à aldeia
com os teus filhos na boca.
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