© Bill Brandt - Portrait of a Young Girl - Eaton Place, London, 1955
Em casa, Souto, noite de 14 de Novembro de 2008
Se te der para falar com os mortos, tudo bem.
Agora, se te der para falar com os vivos, pré-recorda
que serão mortos, e nem todos antes de ti.
Pega em meia dúzia de lápis, sai à rua com eles
esquecidos já na maleta de médico sem pacientes,
esquece-os como te não esqueceriam eles, se
te escrevessem uma carta, um número, uma cruz.
(Todas estas recomendações são estritamente decentes.)
Vai pela sombra.
Aceita
a magnitude como o magnetismo, luculentas munificências
dos deuses da geografia (ali o rio, porém a barragem acolá)
que ajudam a morsegar o coração.
(Estas, nem tanto.)
Falando de outra coisa,
que se faz sábado e depois não há tempo para isto
(a vida),
a chuva seguirá cordoando-te as décadas, quase todas
as frases
(as para os vivos como as para os mortos)
e as praias dotadas de um inverno portátil
naquilo que tanto tens morsegado.
Meia dúzia de mortos, outra meia de lápis,
vivos é que nem tantos,
por decência.
Sem comentários:
Enviar um comentário