14/11/2008

Cuidados e Direcções


© Sandra Bernardo, Cabanas de Viriato, 5 de Novembro de 2008





Em casa, Souto, manhãs de 13 e 14 de Novembro de 2008




Outra maneira de pôr as coisas:
o coração tem portas de brandenburgo
em todas as direcções.

A noite dispara tosses, na cabeça rumorejam
os retardatários senhores dos sonhos.
Os móveis florescem de vidro, louça, retratos.
No pátio, uma poça de água resume a lua.

O íntimo inverno, mais que o de fora rigoroso.
No pátio, o limoeiro de mamilos gelados.
O cão petrificado no bidão.
O céu todo árctico, todo norte
em todas as direcções.

Ciência de não saber, de cuidar apenas.

Cuidar,
como um pastor,
dos cafés abertos das ruas fechadas,
das portas do coração,
do transido erotismo dos limoeiros,
do cão
e da noite,
por causa das tosses.

Cuidar,
como um mirone,
da dançarina estatuária dos fumadores,
das pombas gordas e de chumbo como os polícias,
das rosas artríticas aos pés do bairro social,
dos submarinos cachalotando Odessa,
da solidão em casa tiritando o domingo desportivo,
das rachaduras das chávenas-almoçadeiras,
do dormir outra vez menino.

Outra maneira de pôr as coisas:
pagar com um corpo do sul o teor setentrional do pensar
em todas as direcções.

3 comentários:

Anónimo disse...

Belíssimo Rorschach

Daniel Abrunheiro disse...

rorschachas mesmo que sim?

Anónimo disse...

Roschacho, pois

Canzoada Assaltante