III
Souto, manhã de 16 de Novembro de 2008
Talvez seja preciso falar da casa. É uma casa enquanto nela há um homem. Há um cão também, feito de todos os cães que foram do homem e da casa – porque é sempre Mondego, o cão. Há a boca do lume, que é negra como o céu-da-boca do cão. O catre é onde o homem dorme. A mesa, a que ele come e não escreve e não lê. Um banco duro, de assento forrado a alcatifa achada algures. O retrato da Mãe entre duas velas de sentinela, como ela, apagadas. Um dia, Cristalino Manuel haverá de chegar-lhes o fogo. Há as paredes e o telhado sem placa. Tudo de madeira, entre árvores.
No pátio, a selha da água. Um pessegueiro enferruja sem remissão. O pessegueiro tem os pés metidos dentro do planeta, como fazem as pessoas que chegam a uma praia. A água vem do céu e vem do ribeiro, que em baixo solfeja cristais muito lentos. As facas do matador estão dentro de uma caixa que foi de ananases dos Açores. Da outra riba, casais emitem dedadas de cal.
No estio, os animais cantam de dentro da terra e da cabeça. No inverno, Cristalino Vicente salga a parte do abate que lhe cabe em sorte. No inverno, é quando mais sonha com
As coisas do verão.
1 comentário:
ando a gostar muito, mas muito, dos sonhos deste cristalino vicente. espero mais.
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