31/01/2008

Quem me Dera - Rosário Breve nº 37


Improviso nº 8 – O Trópico de Fevereiro
© Fernando Campos
http://www.ositiodosdesenhos.blogspot.com/

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É a crónica nº 37 da série Rosário Breve, esta semana n'O Ribatejo (www.oribatejo.pt).
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Quem me Dera

Quem me dera ser mulher.
Se o (ou a) fosse, ser-me-ia legítima a ambição de me casar com José Sócrates: para que ele me fizesse, a mim sozinha, o que anda a fazer ao País. E eu seria feliz.
Sei muito bem que ele é tão socialista quão engenheiro. Mas mesmo assim. Casada com ele, eu seria bem mais alegre que um qualquer manel. Ao lado dele, mesmo que um pouco atrás no fotoprotagonismo, eu orçaria. Eu diria as coisas muito claramente. Eu nunca mais escreveria crónicas n’O Ribatejo.
Acho que já há operações para isso, mas também acho que não sou homem para me sujeitar a uma navalhada do, ou melhor, no género. Tenho pena, é claro, mas vou continuar a não-ser-homem-para-isso.
Enquanto envelheço, envileço. Ao balcão da Genoveva, rodo o cálice de ginja com o dedo do cachucho e digo mal de tudo menos dele, que um pobre não é obrigado a ser burro.
Quem me dera, porém, ser burra. Isto é: ser homem para ser mulher. Eu arejaria, muito translúcida, por esses dourados salões da popularidade sem povo. Eu sorriria bâton no marfim. Eu seria, inevitável e fatal, a página-três das melhores revistas piores. Sim, eu seria do piorio por tanto, e tanta, ser do mulherio.
Mas não. Vou continuar isto: um dos fatais ao balcão da inevitável Genoveva, a qual, fatal, desde que o manel dela lhe fugiu alegremente p’a sempre e p’a nunca mais, sabe muito bem que os homens a sério, como por exemplo José Sócrates, são como a ginja. Ou seja: só são bons com elas. Isto é: comigo.

2 comentários:

Manuel da Mata disse...

Tu também tens de Sócrates a tua conta, meu amig!
Hoje vim aqui fazer a prova de vida.
Abraço.

Daniel Abrunheiro disse...

verdade, MAnel.
ainda bem que fazes prova devida.

Canzoada Assaltante