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Leiria, 28/IV/2013, domingo
IMPORTÂNCIA
I
Sou
um homem. Ou não. Ou ainda não, talvez
não ainda. Sou um dos homens. Ah, assim sim. Um dos. Nem a gilete me distingue
de todos quantos outros. É verdade que me exilo quando escrevo. O onanismo
literário não é pecado – é só o processo de consumir o Tempo das pastelarias,
quando o domingo enverga o peplo merencório. Entre homens do milénio estreado
há pouco, parecendo todavia já que há tanto. Se era afinal para isto o
nascimento? Por que não, aliás?
Sou
o terceiro na fila da registadora para pagar o café e o pão. É de malares
limpos, a caixeira que recebe as moedas e, qual fada de salário mínimo, faz
soar o sininho da gaveta devoradora de cobres. Já a vi na praça, acabado o
turno. É quando solta o cabelo, trocadas as chinelas brancas (como as das
enfermeiras aposentadas) por botas de amazona sujeita a transportes
municipalizados. Se calhar, toca clarinete na filarmónica da vila onde a
segunda-feira da folga é uma eternidade reiterada pela cal do muro cemiterial e
pelos velhos sentados no rebordo do fontanário extinto esperando-a, à
eternidade. Colecciono cães imaginários que roem os ossos da infância.
Nada é de grande importância
Nada é de grande importância
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