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Leiria, 27/IV/2013, sábado
DIADELO
I
Posso
ter quase tudo. Basta não querer. Na manhã que sucede a uma véspera apagada,
por exemplo. É agora, a luz é total como o céu. Céu é não haver detalhes:
é tudo de uma só vez a uma só voz. E em
azul, o que sempre é bónus. Há horas que espero as pombas. O arroz que trago na
algibeira dextra ainda as não mereceu. Eu sofreria mor placidez se elas viessem
agora, permitindo-me escreviver sem pen(s)ar tanto nelas. Passando à fase
seguinte do sonho. Do sonho – ou da espiral. Não tenho grande coisa porque me
encontro em estado de querer. Quero uma ou duas pombas no passeio em frente ao Café
da Rita, dar-lhe(s) pão e arroz, integrar a cadeia alimentar, o ecossistema, o
formigueiro retributivo. Para adiar (ou aliviar) essa querença, trabalhei um
pouco já no Caderno Verde, objecto celulósico em que inscrevo palavras que ou
me hão-de ser úteis ou acabarão por morrer-me. ECÚLEO. CONSCRITO. DIADELO.
FLAGÍCIO. HIPERDULIA. INÓPIA. ORNATO. A haver problema, o problema está em as
palavras precisarem de um corpo para ser. Um corpo que as seja. Sem corpo, as
pessoas são só palavras. E sem palavras as pessoas são só a falta do não-querer, são só a impotência.
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Leiria, 26/IV/2013, sexta-feira
FORMIGUEIRO
I
O
mistério da vida da formiga. Não parece individual, tal existência. Parece que
o único sentido é o formigueiro. Não é assim, em Poesia.
II
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