18/04/2013

OS ÚLTIMOS ANOS DE TODA A GENTE - 2 a 5


2

Leiria, 1/III/2013, sexta-feira

Lá em baixo, visto em mente de aqui, a força
da água fazendo o rio espumar pela boca, o
rio que vejo sem olhá-lo, como veia viva, viva
via que ensina como morrer à(s) mão(s) do mar.

Por enquanto encerrado em sala eléctrica, à
febre da consumpção da manhã em casa
pública: um hospital, onde o irmão busca
saúde, alívio, cuidado: cuidado, ó vida!

3

Ibidem

Pessoas traçando linhas de sombra com o corpo na luz da manhã mais recente que a humanidade dá a conhecer. No barzinho do hospital, mulheres ingerindo café-com-leite, fatias de pão aquecido com manteiga. Vermelhos como fósforos, três bombeiros em repouso (dois fumando, um sentado, bebendo água, no estribo traseiro da ambulância).

4

Ibidem

Da celerada brevidade da vida darei justo reportório, fragmentário ele embora. Se à frígida e viva torrente mineral da montanha, serei bem. Se à esquentada manação do gás ardente dos sonhos, serei só. Vale-me o por-enquanto da eternidade. Isto pretendo só deixar estabelecido. A isso portanto deixo.

5

Ibidem
Fui lá fora fumar o cigarro – e fi-lo sob o cerúleo firmamento, cuja altura é fundura sem medida.

2 comentários:

Malena disse...

Fico sempre encantada quando te leio.

(Sei que o teu irmão já saiu do hospital. Desejo-lhe as melhoras rápidas!)

Daniel Abrunheiro disse...

Pois já. Tempo de convalescer, agora. Merci muito beaucoup very thank you.

Canzoada Assaltante