441
Leiria, 3/IV/2013, quarta-feira
(Amanhã como hoje: assim o
instinto guia e quer.
Duas pombas tenho à espera
que lhes panifique o instante.
Outras vezes, só o passado
hei por diante.
E então o instante é
triste e é razão de ser.)
442
Ibidem
(Ao sabor dos ventos, os
panos drapejam viagens.
Farfalha do arvoredo
eólica euforia.
Tenho por mim que ganho o
dia
na recepção dos ares que
trazem imagens.
Tudo me parece palavra
possível, o desamparo até.
No Rio, os patos espadanam
robustas natações.
Todos os animais me
merecem celebrações,
mesmo ridículas, por
rimadas e por de rodapé.)
443
Ibidem
Quando ela vier, que venha
de mansinho.
Que por quem a não temeu,
não digo carinho,
mas mansidão use lenta,
devagarinho.
444
Ibidem
(Usura e vezura dos dias a
que pertenço,
a Língua é quanto tenho
por espelho.
Se de mais sinto, vejo
tudo vermelho.
Tudo a preto-e-branco, se
de menos penso.)
445
Ibidem
(Por vezes, é em planalto
moral que me ocorre
sufragar o vale, que
toalha estende ’té o mar.
Nem tudo vive, mas certo é
que tudo morre.
Não se fica porém ou vai –
ser é mudar.)
446
Ibidem
Colhi dos passantes a
efemeridade.
É inconstante o tempo,
muito dura a invernia.
Recolhi a casa (é na
estrema da Cidade).
Passado é já quase o hoje do dia.
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