Banhada
términ’ortográfica p’ra português ver
Todos os nomes dos meses terminam em O (O
de Opressão) menos Abril, que conclui
em L de Liberdade.
Relvas termina em
S. De Sacanita. Portas, idem. Troika
– em A de Abuso. FMI – em I de Imperialismo. Santarém, em M de Moita, esse grande telenovelista
alegadamente criminólogo e comprovadamente oleiro de rosáceas de gesso anti-património
eclesial: Malheureusement – como
diria o francês que inventou o Mulãrruge. Todos os dias supostamente úteis
terminam em A – de Agonia. Sábado e
domingo também em O – de Ora-Bolas. Etc.
Procedo a estas
verificações prontuárias “derivadó-facto” de me sentir entediado. Aborrecido.
Espinafrado. E todo prepúcio da corneta (o que não é glande coisa, como diria o chinês que descobr’inventou a roda, o
papel, a pólvora e a EDP).
Portugal, que eu
amo porque sou uma besta não reciclável, aborrece-me até às lágrimas egressas
do bocejo mais escancarado.
Aborrece-me o
Cristo-Rei de Almada, a que o vulgo ateu (como eu) graciosamente chama “Saca-Rolhas”.
Aborrece-me o
Garnizé de Barcelos.
Enfastiam-me o
Zé-Povinho das Caldas e o Coiso de barro, das Caldas também, dele.
Esmói-me o bestunto
a couve-flor que a gritadeira arregalada conhecida por Mariza usa à (ou por)
cabeça.
Entenebrece-me a
moela a hibernação comatosa do senhor Presidente da República.
Emaranha-me as gónadas
o estado-novismo emaciado a xanax do senhor Primeiro-Ministro.
Arrefenta-me os
guizos o cristianismo postiço dos católicos (e o dos protestantes também, e o
dos mórmones também, e o dos budistas também etc.).
Repugna-me a
gelatina da espinal-medula a barbárie “cultural” da tauromaquia. (E não, não
tenho medo algum de dizer isto em voz alta ao Ribatejo todo.)
Desconjuntam-me a
ossatura as televisões ditas nacionais só emitirem trampa óptica.
Arrepimp’ouriça-me
a cidadania (que aliás pratico sem redenção nem pecado, juro que sim) que o
cartaz pró-tacho-de-Santarém do PS diga tão-só “Idália Serrão” sem dizer mais nada, nem que fosse uma qualquer
mentirinha bem intencionada tipo “Flores
nunca mais, Obrigado ó Rosa”.
E envergonha-me não
ter ido, não ainda, àquele antigo hotel rural na Azóia de Cima acompanhado por
essa suculenta (e lenta) posta de carne chamada Andreia e cujo heterónimo
oficioso é “Viviana” quando luxo-acompanhante de e “para homens solitários, desacompanhados e carentes”, a crer no
item n.º 03 da rubrica Sopa da Pedra da
pretérita edição do nosso jornal.
E agradar-me?
Agradar-me-á alguma coisa neste infecto rincão de rectangular formato, neste
desínclito morredouro de sem-tostões? Sim.
Sim: as manhãs
diáfanas como ósculos de criança; os arvoredos envernizados do sol que esmalta
o olhar de vê-los ondulando à brisa como searas de vento à Manuel da Fonseca;
as praias tripuladas por gaivotas que se vêem e crêem águias brancas à ilusória
bola-de-espelhos da luz; Os Pescadores
de Raul Brandão; a poesia de António Osório; e as formosas portuguesas que por
ruas nossas e praças de mais ninguém mesmerizam de sandálias finas como fiambre
da perna os cronistas ateus que só sabem dizer mal do desGoverno e da vida
própria.
Vida que termina em
A. A de Adeus. Ou de Até-para-a-semana. Ou de “Agonia nunca mais, obrigado.”
Ó Rosa.
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