18/04/2013

OS ÚLTIMOS ANOS DE TODA A GENTE - 1


Leiria, 4 de Abril de 2013



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Leiria, 28/II/2013, quinta-feira

Todos os anos são os últimos anos: basta ter-se nascido. Assim é para mim, assim para toda a gente.
A única volta a dar-lhe – é ir dando a volta possível, resistindo à doença, à tristeza, a um que outro vício, ao mundo mesmo.
O dia mais importante é o de hoje: o de ontem já não conta, à mesma vez que com o de amanhã não há que contar. Este imediatismo não é tolice. Não creio que o seja, pelo menos. Então: todos os dias são derradeiros. Esse treino para a morte em que o sono consiste, que outra coisa ou poderia ser, na verdade? Estou em paz com isto. E com isto tenho levado a água da tinta ao moinho dos livros de que sou, ou vou sendo, capaz.
Fevereiro acaba-se hoje. Não é bissexto. Por ruas, praças, aldeias, vilórias, cidades – andam inquietas as pessoas, temerosas das tropelias da política financeira do império, cuja sede toda a gente sabe quem, o que e onde é.
Vale-nos arder a luz de mui prazenteiro modo. Por estas bandas, é um Inverno esclarecido o que nos é dado viver. Temo, por outro lado, que mais e mais gente se esqueça de sobreviver. Anda por aí muito desespero – não há que enganar. Jovens, maduros e velhos vêem-se proscritos de toda a expectativa – menos a da miséria. Os lacaios do império que nos desgovernam assim o impõem. E eu não sinto que alguma Revolução esteja na calha. Acho-nos de uma excessiva mansidão bovina para tanto. De povo que éramos, passámos a ser público – uma abissal diferença entre uma e outra condição.  



2 comentários:

Malena disse...

Sim! Somos demasiado mansos!

Um abraço, Daniel!

Daniel Abrunheiro disse...

Outro para ti, Malena.

Canzoada Assaltante