Leiria, 4 de Abril de
2013
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Leiria, 28/II/2013,
quinta-feira
Todos os anos são os
últimos anos: basta ter-se nascido. Assim é para mim, assim para toda a gente.
A única volta a
dar-lhe – é ir dando a volta possível, resistindo à doença, à tristeza, a um
que outro vício, ao mundo mesmo.
O dia mais importante
é o de hoje: o de ontem já não conta, à mesma vez que com o de amanhã não há
que contar. Este imediatismo não é tolice. Não creio que o seja, pelo menos.
Então: todos os dias são derradeiros. Esse treino para a morte em que o sono
consiste, que outra coisa ou poderia ser, na verdade? Estou em paz com isto. E
com isto tenho levado a água da tinta ao moinho dos livros de que sou, ou vou
sendo, capaz.
Fevereiro acaba-se
hoje. Não é bissexto. Por ruas, praças, aldeias, vilórias, cidades – andam
inquietas as pessoas, temerosas das tropelias da política financeira do
império, cuja sede toda a gente sabe quem, o que e onde é.
Vale-nos
arder a luz de mui prazenteiro modo. Por estas bandas, é um Inverno esclarecido
o que nos é dado viver. Temo, por outro lado, que mais e mais gente se esqueça
de sobreviver. Anda por aí muito desespero – não há que enganar. Jovens,
maduros e velhos vêem-se proscritos de toda a expectativa – menos a da miséria.
Os lacaios do império que nos desgovernam assim o impõem. E eu não sinto que
alguma Revolução esteja na calha. Acho-nos de uma excessiva mansidão bovina
para tanto. De povo que éramos, passámos a ser público – uma abissal diferença
entre uma e outra condição.
2 comentários:
Sim! Somos demasiado mansos!
Um abraço, Daniel!
Outro para ti, Malena.
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