Por mim, está na
altura
O Estado é maior do que o País, o País é maior do que a
Pátria e a Pátria é só do tamanho da Selecção da bola, a qual, por aliás
meritória e nacional coerência, perde sempre nos momentos decisivos, à imagem
de Pátria, País e Estado. Tirando isto, está tudo bem.
Está bem o corrente Verão, cujos quase-40 graus
centígrados amanteigam a luz e entorpecem o ar de uma textura sedativa,
narcótica, soporífera e estupefaciente em tudo idêntica à da prosódia
sí-la-ba-a-sí-la-ba do sr. ministro das Finanças.
Está bem o Facebook, inçado como anda de “revolucionários”
que carregam muito mais vezes no botão do “gosto” do que botam os olhos &
as mãos & os pés & tudo nas ruas-manifs.
Estão bem os retalhistas de botijas de gás, cujo consumo
disparou (ou explodiu) desde que o pessoal, em vez de cartão, começou a ir com
elas, mais isqueiro, ao multibanco.
Estão bem os pintores da construção civil, os quais, a 5 €
à hora, já ganham mais 77 cêntimos do que os enfermeiros por igual fracção de
tempo de trabalho.
Estão bem as senhoras que pela berma das estradas alugam a
sacudida imitação do amor, já que os alegados filhos delas se reformam todos
cedo e bem.
E estão bem os e as que morreram antes desta edição do
jornal estar no prelo, imunes que ficam, finalmente, à envergonhada pobreza
imerecida e à angústia de terem criado as filhas para isto, sendo “isto” o
andarem elas, pelas bermas das estradas, alugando a sacudida imitação do amor
em prol dos filhos etc.
Eu acima disse “tudo bem” – mas não é verdade. Ele há
excepções.
Estão mal os pedófilos, porque as crianças acabaram e já
ninguém está para fazer mais.
Estão mal os incendiários, porque já ardeu tudo o que
havia a arder, a começar pelo futuro.
Estão mal os
mestres-professores-Bambas-Karambas-Makukulos, porque a Maya cartomante não
arreda os pezunhos da SIC (e sempre é de borla, embora não acerte uma prà caixa
como o Sá Pinto).
E, se não mal, também não há-de andar grande coisa esse
manso avatar da “tranquilidade”chamado Paulo Bento, cujo onze supostamente
nacional já nem uma Betesga ganha, quanto mais um Rossio.
Isto tudo que digo há-de ser verdade – a não ser que
alguém da Rádio Renascença se lembre de pôr o senhor ministro das Finanças a
fazer os relatos dos jogos de Portugal contra a Troika. Porque, com esta a
dormir, de certeza-certezinha que ganhávamos. E porque, a dormir, tudo e todos
somos da mesma altura.
Até que decidamos que está na altura de termos e sermos de
outro tamanho.
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