Finitos embora,
toca-nos por vezes a graça,
nem tudo que corre
nem sempre não pára,
escuta e olha e vê.
Lares se fazem,
contrafazem, desfazem
e refazem em
outros, mescladas em
outras as pessoas
mesmas.
Sempre lograram
contemporã existência,
que essência não, a
sarjeta com o casino,
a casca de batata
com a filigrana.
Por mim, mais
sempre cifro que a decifrar
dou, que me até por
vezes sucede
saber do que, e a
quem,
falo.
*
É uma questão de
sobrevivência, versejar. Um gajo mete-se a isto na púbere roupagem – e quando
dá conta de si e do que em que se meteu, está tramado: sem poder viver disto,
para isto vive. Isto significa: um
achado silábico, um jur’assino futuro, um tilintar de cores, uma cegueira com
GPS. Não poderia não podê-lo, versejar. Agora já não. Parece que estou daqui a
ver o Antero no peitoril da janela,
como o memorou Gonçalves Crespo, o Pessoa a almoçar no Restaurante Pessoa, mediante empréstimo de J(oão) C(orreia) de
O(liveira), o Vergílio a fumar cigarros para-sempre-até-ao-fim, a besta do
Pina Manique a encarcerar gente como se fosse, o Pina, um clone analéptico do
McCarthy do zamericanos. Sim, é sobreviver, isto. Não direi, disto, que é apenas isto, nem tudo isto. Sim, no fundo como à flor disto – isto é indiferente.
Mesmo a tragédia vertiginosa-lenta de Scott Fitzgerald, de Poe, de Pessoa, de
Lowry, de Gomes Leal, de Céline, de tantos ante quem o futuro (agora-isto) só
pode indiferenciar nada de coisa alguma. Tenho a minha Mãe doente de tempo.
Coração, sangue, sinapses, rins, olhos – pretextos-janelas para o Tempo entrar
devastadoramente naquela casa-corpo que me deu nascimento mercê jaculatório amor
de um homem hoje morto, ontem mortos, morto há dezasseis anos, dois meses e
dois dias. Adiante e siga: finitos embora, toca-nos por vezes a graça, a pulcra
graça pueril da Beleza, a uns por coplas, a outros por cópulas: a tudo e todos
assiste o direito de algum-pão-algum-circo-algum-poeta-Juvenal-e-juvenil. Sim,
Juvenal se chamava, também, um jogador da CUF das minhas primícias lúdicas. E
então? Que mal nenhum pode tal (Juvenal) trazer isto à humanidade? Vo-lo
recito, de Pessoa, que ’ind’oje à tarde o li – parece que do ano primo de meu
Pai, 1917 – isto:
O meu espírito vive constantemente no estudo e no
escrúpulo de deixar, quando eu despir a veste que me liga a este mundo, uma
obra que sirva o progresso e o bem da Humanidade.
Quatro minutos para
as zero. Fatigada doçura nos olhos, óculos incluídos. Ferve a caneta já um
pouco. Como terá suportado Macau Pessanha tantos anos? E Pessoa, o viver? Três
minutos para as. Dois minutos para. Um minuto. Zero.
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