06/07/2012

Ideário de Coimbra - 23 - três trechos de Coimbra, quinta-feira, 24 de Junho de 2010


© Asca S.R. Aull – Wall Street


A solidão confere invisibilidade ao seu portador. Uma espécie de força, também.

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Cerro os olhos para subir a esta falésia povoada de ovos de aves marinhas. O veludo-eléctrico azula o mar de um verde novo todo cinza, giz, âmbar e nácar. Os ventos reorganizam a cada instante a altura e o mundo. A praia é uma tiara infinitesimal. O ar satura-se do cheiro vivo dos peixes, dos crustáceos, dos barcos e dos bivalves. Sentir-me-ia feliz, se alguma coisa pudesse sentir – mas não posso, pela razão de que tudo é belo de mais para ser negociado pela razão. Não sinto sede sem fome – nem isso sinto. Sei que estou vivo, mas não tão furiosamente como quase sempre antes desta escalada. Então, cadeiras de café crescem de sob os ninhos onde os ovos se dissipam. A agreste vegetação cimeira da falésia cede corpo e terreno ao soalho de mosaicos pisados e repisados por gerações de cafeinómanos. O Sol tem agora lustre – e as nuvens coalhadas aos ombros do mar volvem-se ponche, anis, laranjada, batatas fritas, maços de tabaco, calendário, relógio e Há Caracóis. Devo ter-me aberto os olhos – mas à felicidade, não.

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Possibilidade de uma descoberta, na Noite: a de que o nome genuíno das pessoas não é aquele que está mecanografado no BI, na carta de condução, na cédula militar, na licença de porte de arma e/ou afins. Não – essa mecanografia onomástica é o anverso do nome vero, primo e último. O genuíno está nos olhos e no olhar que produzem o rosto.

Aquela senhora não é Magda. É mulher para se chamar isto: Cansada de Servir Bolos e de Ter Amado mais a Minha Filha do que ela Me Amou.

Aquele rapaz não é Anselmo. É rapaz para se chamar assim: Gosto mais de Filmes do Vietname do que de Estudar Gestão mas Tem de Ser.

As cercanias do nome pestanejam, sobrancelham, sublinham a água-de-cor-que-fala-e-diz.
Acho ter firmado isto, esta Noite. 

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Canzoada Assaltante