© Asca S.R. Aull – Wall Street
A solidão confere invisibilidade ao seu
portador. Uma espécie de força, também.
*
Cerro os olhos para subir a esta falésia
povoada de ovos de aves marinhas. O veludo-eléctrico azula o mar de um verde
novo todo cinza, giz, âmbar e nácar. Os ventos reorganizam a cada instante a
altura e o mundo. A praia é uma tiara infinitesimal. O ar satura-se do cheiro
vivo dos peixes, dos crustáceos, dos barcos e dos bivalves. Sentir-me-ia feliz,
se alguma coisa pudesse sentir – mas não posso, pela razão de que tudo é belo
de mais para ser negociado pela razão. Não sinto sede sem fome – nem isso
sinto. Sei que estou vivo, mas não tão furiosamente como quase sempre antes
desta escalada. Então, cadeiras de café crescem de sob os ninhos onde os ovos
se dissipam. A agreste vegetação cimeira da falésia cede corpo e terreno ao
soalho de mosaicos pisados e repisados por gerações de cafeinómanos. O Sol tem
agora lustre – e as nuvens coalhadas aos ombros do mar volvem-se ponche, anis,
laranjada, batatas fritas, maços de tabaco, calendário, relógio e Há Caracóis.
Devo ter-me aberto os olhos – mas à felicidade, não.
*
Possibilidade de uma descoberta, na Noite:
a de que o nome genuíno das pessoas não é aquele que está mecanografado no BI, na
carta de condução, na cédula militar, na licença de porte de arma e/ou afins.
Não – essa mecanografia onomástica é o anverso do nome vero, primo e último. O
genuíno está nos olhos e no olhar que produzem o rosto.
Aquela senhora não é Magda. É mulher para
se chamar isto: Cansada de Servir Bolos e de Ter Amado mais a Minha Filha do
que ela Me Amou.
Aquele rapaz não é Anselmo. É rapaz para se
chamar assim: Gosto mais de Filmes do Vietname do que de Estudar Gestão mas Tem
de Ser.
As cercanias do nome pestanejam,
sobrancelham, sublinham a água-de-cor-que-fala-e-diz.
Acho ter firmado isto, esta Noite.
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