Leiria, segunda-feira, 16 de Julho de 2012
Supõe-me, ó menina, neste
real: uma avenida urbana, um café pequeno, familiar, de bairro, em que me
conhecem o primeiro nome e me sabem o hábito do consumo diário. Pela língua do
macadame, procissão de viaturas comerciais. Pelas arcadas corredoras que
galeriam a fronte dos estabelecimentos, peões avulsos andando a & à vida.
Crê-me, porém, que, estando aqui de facto, não é deveras aqui que sou – porque
é numa quinta sem máquinas que me desejo. À virente ardência da massa vegetal
embebida em luz, recebo a dicção das frases brancas que os muros parecem – como
locuções de cal. Um regato vem serpentinando fulminantes de vidro em chamas.
Clarões de japoneiras quase de todo ocultam o solar. Limoeiros, pereiras-de-inverno
e laranjeiras acirram a fragrância mental, que a profusão de flores mais obriga
a ser pulmonar. O jasmim quer de ti falar-me a mim. A balsamina sonha com a
menina. Só não é recinto: porque o muito céu muito azul todo a tudo franqueia sem
mesura mas com mesuras gentis & gentílicas. (É verdade que passa agora
mesmo pela avenida uma ambulância dos Voluntários locais a uivar – mas a Quinta
resiste e r-existe.) Folhagens emaranham diademas latentes & latejantes.
Silvas cuidam cobras brilhantes ao esmalte solar. A respiração majora a vida
dos perfumes, fulgura badanas do nariz, atenua a combustão da melancolia
profissional. É tudo um sendal, um veredear, um azinhagar, um álear. Iridesce a
joaninha zumbindo a vermelho-pinta-preta sua dela puerilidade mesma. Tudo
aparece, nada perece. (Dão porém as perto-de-meio-dia, tenho de tornar a casa a
preparar o caldo, levo a Quinta velada a um instante periférico do outro olhar
– o verdadeiro – com que te olho: e que mais não é, por mim, menina, que jasmim
e balsamina.)
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