11/11/2011

ROSÁRIO DE ISABEL E DINIS seguido de OUTRAS FLORAÇÕES POR ESCRITO - fragmento da entrada 48, datada de Leiria, 12 e 13 de Junho de 2011



Tenho quatro anos, não posso ter mais.
De idade, quero dizer. Quatro anos. Sou o mais novo (muito mais novo) de sete. Morávamos no que a vida sempre foi: um rés-do-chão. Uma ocasião, a família de uma casita perto teve de deixar a avó sozinha em casa. A minha Irmã disse que ia lá dormir para a senhora não ficar sozinha aquela noite. Levou-me com ela, claro. Se eu tinha quatro, ela tinha vinte-quatro. A minha Irmã era – ainda é – a primeira dos sete. Eu era – ainda sou – o sete. Lá fomos. Ou melhor: ela foi, eu levei-me-dela. A casita era de agricultores. Adormeci sem memória, como só aos quatro anos. A minha Irmã trabalhava num escritório. Levantou-se cedo, aconchegou-me à garganta a fímbria do lençol, deixou recado, foi. Acordei ainda o galo não estava rouco. Dei por mim sem ela. Dei por mim sem ela numa casa que não era a nossa, numa cama que não repeti e numa alva que não volta. Foi o meu primeiro desespero. Cheguei-me à janela e esmurrei a vidraça. Foi o meu primeiro sangue.
Desde então, as vezes que tal me tem acontecido.

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Canzoada Assaltante