52. MOVIMENTO-VENTO
Coimbra, quinta-feira, 16 de Junho de 2011
Em movimento-vento, o ar é bom de respirar, mais a mais quando matizado por esta luz que, filtrada de árvores, é uma luz profana e feliz. Cruzei o Lis – eis-me, na outra margem, ante o meu Mondego.
Não é lingrinhas, o meu amor pela minha Cidade. Quando retorno, sinto-me o que & quem deveras sou: uma das pedras, um dos pátios humanos, uma rosa de cabelo com sapatos e lápis: e presa de uma serena ansiedade que é a pedra-de-toque da consciência patriótica entre ter nascido e ir morrer. Coimbra é a Buenos Aires que posso. Esta tarde, na Rua da Sofia, sinto na nuca quanto me seria precioso que os meus Pais me vissem ir do Terreiro da Erva ao Terreiro do Marmeleiro via Rua do Moreno. O coração na nuca. Derivo para Montarroio, suposto o açúcar da amargura: sou um órfão que é pai: um paradoxo natural, conimbricense, có(s)mico. Sorrio, levitação de perfume sustenta a andarilhança (anda, dança). Polícias, matronas, quiosques, a Bandeira Nacional verdencarnando o azul à teste da sede do município, as pombas matriculando a duração perpétua do burgo, fantasmas vivos nos vãos das escadas de madeira, duas esmeraldas no rosto deste homem esperando o verde-peões da passadeira da Caixa Geral de Depósitos, que formoso verde o dos olhos com que ele filma a realidade que lhe pertence, que o nasceu, que o matará.
Girassóis celebram a monarquia mais absolutista: o Sol de Coimbra. A lunaridade local (sabe-o toda a gente daqui) é republicana e namoradeira. Mas o Sol é de um reinado tremendo. E é à luz que esta mulher tão pobre e tão bonita diz ao senhor da casa-de-pasto que a filha foi passar uns dias de água à Torreira, Aveiro.
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