30/11/2011

57. LENDO E VENDO E SENDO, de Duarte Belo, NO NÚCLEO DA CLARIDADE – entre as palavras de Ruy Belo






para o dito Duarte, naturalmente



Leiria, quarta-feira, 30 de Novembro de 2011

Melhores dias não virão talvez
salvar-nos da carestia anunciada
de de borla morrer e de viver pra nada
a meio da graciosa desgraça do português

como este-aquele ali, que pelas esplanadas
pedincha o cêntimo para a sopa, o tostão pró-pão,
por sua alma de cristão que é para pão,
pela pobreza da minha roupa que é prá-sopa,

isto não é que me comova mas amargura-me,
mais de meia população vive do ar, que não da terra,
o resto vai a pé a Fátima ver a boneca, cura-me,
ó Virgem de louça, da cegueira que nos aterra,

não, melhores dias não virão,
sabeis,
mas não tarda será Verão,
vereis.

*

Cresceram duas mãos de homem
ao cabo dos meus braços de menino:
vou para velho, não mais já jovem
– dizem que é fado, que é destino.

*

Estou aqui sentado entretido a ser português
ao sol morno e manso qual leão saciado.
Eu já nunca mais para sempre vivo outra vez,
é melhor portanto curtir o banco encontrado.

*

Acaba-se-nos hoje o mês
O primeiro Novembro a seguir à vida
da minha Mãe
Não é fácil nem tenro nem terno
ser um órfão descriado à beira
do Inverno.

2 comentários:

Manuel Barata disse...

É do melhor que li nos últimos tempos. E como sei que também foi escrito para mim, agradeço comovidamente o teres-me chamado a atenção no FB. Abraço apertado e até um destes dias.

Daniel Abrunheiro disse...

Manel, é sempre para ti e é sempre contigo.

Canzoada Assaltante