© Tó Vieira – Barragem do Alqueva - 2010
É a jusante que te rio.
Cristais coruscam peixes falados.
Mansidão das coisas; em pátios, pessegueiros.
Mães urdindo a economodomesticidade.
Aquela senhora ali de preto.
O vão da janela crucifixada.
O comboio ganindo no Loreto.
A casa do Gil, perdida, queimada.
Recorda sem pressa o que vai seguir-se.
Lenta parcimónia ajuda a caligrafia.
Na Turquia, o minarete preside
sem pressa ao crepúsculo, ao milénio.
Reviverei quanto puder (n)o futuro.
Dos meus irmãos a minha Mãe julga-se 55
anuária. Telefonaram-me há pouco, por isso
sei. Uns quantos versos me reviverão
e resgatar hão-de.
*
Em casas de gente, ele há louças
louçãs e rebrilhantes, belas.
Retratos as escoltam, amarelas
caras fustigadas, essas
que ficam galeriando as casas
da gente que desabita quanto pode
os terrores do Fado, do Hospital,
do Demónio e da Pobreza.
Sobre o linho que cobre a mesa,
fruta arde aromas amarelos.
Encarnada mão os rearranja.
Chopin percute cordas na sala.
Obras Completas de Júlio Diniz.
Idem aspas aspas de Eça de Queiroz.
Viver é fácil, basta ser feliz.
Não é tão difícil, basta não ser nós.
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