13/10/2010

IDEÁRIO DE COIMBRA - podografias de retorno – 89

89. FLORES E OSSOS INTER PARES



Coimbra, segunda-feira, 11 de Outubro de 2010



Às portas da Noite, noite por todos os lados, na rotunda dos patos, pela avenida que sobe até aos Olivais, pelo Cidral, pelas ruas de Santa Teresa e Pedro Monteiro, muita noite nas veredas da Sereia, acampada na Praça da República, nas esplanadas, na dupla sombra dos morcegos, no recolhimento dos cisnes nostálgicos e enregelados – e nos meus sapatos.
Pelas calçadas, o xadrez das figuras confirma a Noite. Há já casacos, o Verão já lá vai. Jornais, latas de cerveja, chávenas, fragrâncias rápidas de mulheres que passam perfumadamente, grandes árvores tremendo da febre fria do vento, automóveis adormecidos, relógios, dígitos, traseiros basculantes – e os sapatos dos outros.
Um rapaz de boca bem talhada encostado a um poste-candeeiro, a perna direita flectida em apoio traçando um 4 perfeito. Um par de namorados (ele mais baixo do que ela dois palmos bem medidos) frú-frúa beijinhos e risadinhas e cuspinhos e alarvidadezinhas docessumarentas. Algum lixo pelos lancis, mormente garrafas de vidro e copos.
Flores e ossos. Outros pares: roupa encarnada & despojos dominicais cheirando a missa acabada; íris versicolores & cintos de napa; arcadas & contentores; farrapos de frases & emoções leigas; restos de jantares & aromas abaunilhados; humanismos frígidos & brincos rutilantes; ossos & flores; & sapatos.

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Canzoada Assaltante