Dois rostos na noite de Coruche
Dois dias antes da reabertura da tragédia lírica nacional, isto é, do domingo das eleições legislativas, a minha senhora e eu fomos anoitecer em grande e em gala a Coruche. Fomos em festa e viemos em paz.
A minha senhora, não sei, mas eu regressei a casa melhorado por dois encontros inaugurais. À orla da festa do nosso jornal, que se chama O Ribatejo e é bom até à penúltima página, conheci duas pessoas que doravante guardo na despensa simpática do coração: David Antunes e Carlos Cruz. Rostos emoldurados em extremos opostos da idade humana, foram-me as jóias mais rutilantes da minha noite coruchense.
David é um rapaz. Músico de primeira-água, virtuoso da cortesia e clave do sol da humildade, está no princípio do início do começo da vida artística. Ao teclado, a sua mão esquerda não está para ali parada como os organistas dos bailes de antigamente. E é uma alegria vê-lo respirar música como um pássaro respira árvores.
Carlos, esse está no recomeço do início, em princípio. Veterano vivente, viajante astral do terreno ofício de existir, já viveu – e vive – do pão consagrado pela igreja mais humana: a de estar vivo com menos atenção a si mesmo do que aos outros. Padeiro, sacerdote-operário, instigador de filantropias médicas, português suíço às vezes e moçambicano para sempre, deu-me breves palavras que aumentaram a minha vida e se me dependuraram à lapela do melhor dos meus fatos, que foi naturalmente o que vesti para conhecer Coruche.
Ganhei dias suplementares de vida, tendo com eles, David e Carlos, partilhado instantes dessa noite de festa dO nosso Ribatejo.
Foi em Coruche, uma destas noites.
2 comentários:
Grande amigo de Coruche! Comigo também terias ido ao Couço.
Abraço.
Ah pois teria, Manel - e com muito gosto.
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