31/08/2007

Chuva Nocturna e Outros Poemas para Nada




Chuva Nocturna

Chuva descolava o rímel aos olhos da noite.
Escorria preta laca pelas vidraças,
ela enegrecia a cinza das casas.
Pluviais eram as coisas e as demandas.
Eram outros invernos todo o ano,
todos os anos.

De um lado, a Rodoviária.
Do outro lado, o café e a fábrica de artefactos de borracha.

O cérebro trabalha em constância as imagens.
Chuva preta, Rodoviária
etc.

Da Cama Dele para o Resto do Mundo

Em redor, a cama dele sofre clarões póstumos.
Móveis congregam, dele, a existência e a pele das mãos.
Nisto de nos deitarmos, somos todos irmãos.
Todos uns dos outros tomamos féretros e préstimos.

É um quarto enxovalhado de humidades
que verdecem vesgas até contra os retratos.
Viver – é não morrer só por maus tratos.
Viver – é maltratar prisões e liberdades.

Em torno, a cama dele é dele deixada.
Retratos fixam ao chão almas volantes.
Isto é tudo ainda como era dantes:
e como era a coisa não é coisa passada.

Em volta, a cama dele está ocupada
num quarto enxovalhado de humanidades.

Santo Peixe aos Antónios

O peixe é todo para morrer
e nós pescamos sem pensar que não,
que tudo é para morrer,
até pescar.

Acompanhamento

Acompanho as próprias mijadas
com o auto-relato dos prémios de Fórmula 1.
Contra o esmalte, efervesce a velocidade
a jacto.
Tem curvas.

Dois Toques

A pele dos dedos na pele da água.



Caramulo, tarde e noite de 1 de Agosto de 2007

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Canzoada Assaltante