à Liège,
circa 1908:
Désiré et Henriette avec
Georges (5 ans) et Christian (2)
Paisagem e Despovoamento
As pessoas separam-se durante o casamento e depois, ainda por cima, divorciam-se. Não contentes, andam uns tempos a ver se conseguem casar contra outras pessoas e conseguem. Juntam dois, três filhos. Dividem os filhos por festinhas de aniversário e fins-de-semana a contra-relógio. Reformulam no banco o crédito à habitação, mudam de pastelaria e decidem-se por outra zona do Algarve para consumo das pontes de feriado. No escritório, são peixes incolores nadando nas frias águas artificiais do ar condicionado. Na reunião de condóminos, sonham em voz alta com vivendas a pique sobre falésias abruptas prateadas pela solidão da Lua do Romantismo.
Da Literatura, sabem tudo sobre Manuela Moura Guedes e Cristiano Ronaldo.
Da Antropologia, tudo conhecem do ritual de acasalamento das floribellas com os condes varões.
No Desporto, angustiam-se de expectativa quanto ao resultado final da Desliga dos Campeões: isto é, Paulo Teixeira Pinto ou Jardim Gonçalves?
Tenho sempre muita facilidade em identificar estas pessoas. Não é mérito meu. O segredo está no facto de todas elas residirem em dois sítios apenas, que são Alfragide e Santo António dos Cavaleiros. O resto de Portugal é paisagem e despovoamento.
Mas está bem assim, porque todos os créditos à habitação ou são capitalizados em Santo António dos Cavaleiros ou mal parados em Alfragide. E como a essência da vida não é moral mas aritmética, a confirmação destas proposições reside na banal verificação de que só a taxa de divórcios & rematrimónios rivaliza com o “spread” da taxa de juros.
Lá no fundo, soa a nota triste de as pessoas portuguesas serem europeias pelo lado pior. Com honrosas cinco excepções, porém: Manuela Moura Guedes, que, apesar de tudo e por nada, recebe de Espanha; Cristiano Ronaldo, que, por causa de tudo e mais alguma coisa, recebe de Inglaterra; Paulo Teixeira Pinto e Jardim Gonçalves, que não se recebem; e eu, que já fiquei sem dois têzeros e sem duas mulheres, uma em Alfragide e outra em Santo António dos Cavaleiros.
As pessoas separam-se durante o casamento e depois, ainda por cima, divorciam-se. Não contentes, andam uns tempos a ver se conseguem casar contra outras pessoas e conseguem. Juntam dois, três filhos. Dividem os filhos por festinhas de aniversário e fins-de-semana a contra-relógio. Reformulam no banco o crédito à habitação, mudam de pastelaria e decidem-se por outra zona do Algarve para consumo das pontes de feriado. No escritório, são peixes incolores nadando nas frias águas artificiais do ar condicionado. Na reunião de condóminos, sonham em voz alta com vivendas a pique sobre falésias abruptas prateadas pela solidão da Lua do Romantismo.
Da Literatura, sabem tudo sobre Manuela Moura Guedes e Cristiano Ronaldo.
Da Antropologia, tudo conhecem do ritual de acasalamento das floribellas com os condes varões.
No Desporto, angustiam-se de expectativa quanto ao resultado final da Desliga dos Campeões: isto é, Paulo Teixeira Pinto ou Jardim Gonçalves?
Tenho sempre muita facilidade em identificar estas pessoas. Não é mérito meu. O segredo está no facto de todas elas residirem em dois sítios apenas, que são Alfragide e Santo António dos Cavaleiros. O resto de Portugal é paisagem e despovoamento.
Mas está bem assim, porque todos os créditos à habitação ou são capitalizados em Santo António dos Cavaleiros ou mal parados em Alfragide. E como a essência da vida não é moral mas aritmética, a confirmação destas proposições reside na banal verificação de que só a taxa de divórcios & rematrimónios rivaliza com o “spread” da taxa de juros.
Lá no fundo, soa a nota triste de as pessoas portuguesas serem europeias pelo lado pior. Com honrosas cinco excepções, porém: Manuela Moura Guedes, que, apesar de tudo e por nada, recebe de Espanha; Cristiano Ronaldo, que, por causa de tudo e mais alguma coisa, recebe de Inglaterra; Paulo Teixeira Pinto e Jardim Gonçalves, que não se recebem; e eu, que já fiquei sem dois têzeros e sem duas mulheres, uma em Alfragide e outra em Santo António dos Cavaleiros.
1 comentário:
Esta tua reflexão está excelente. Mas não seria de esperar menos de ti! Beijos.
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