Tenho dentro muitas coisas partidas.
Também dentro tenho a maneira de colá-las.
Nunca voltarão a inteiras, eu sei.
Parecem coisas etruscas, quando as colo.
Se chove de lado, partem(-se) de novo,
antigas, etruscas.
Marcho como toda a gente marcha: para
o futuro com toda a pré-história
de fragmentos e sinais e escritas
laudatórias de deuses ensurdecidos
pelo fragor económico das vidas.
Tenho dentro muitas vidas partidas.
Também dentro tenho a maneira de endeusá-las.
A cola é feita de cuspinhenta luz.
Amanhã não.
Ontem também não.
Por favor: ontem também não.
Hoje.
Tenho hoje dentro muitas coisas e vidas.
Todas elas coláveis, todas elas
partidas.
Também dentro tenho a maneira de colá-las.
Nunca voltarão a inteiras, eu sei.
Parecem coisas etruscas, quando as colo.
Se chove de lado, partem(-se) de novo,
antigas, etruscas.
Marcho como toda a gente marcha: para
o futuro com toda a pré-história
de fragmentos e sinais e escritas
laudatórias de deuses ensurdecidos
pelo fragor económico das vidas.
Tenho dentro muitas vidas partidas.
Também dentro tenho a maneira de endeusá-las.
A cola é feita de cuspinhenta luz.
Amanhã não.
Ontem também não.
Por favor: ontem também não.
Hoje.
Tenho hoje dentro muitas coisas e vidas.
Todas elas coláveis, todas elas
partidas.
Caramulo, tarde de 9 de Agosto de 2007
4 comentários:
"cuspinhenta luz"? genial. Cão, abraço aí, tás em gande forma
Daniel,
É. Todos nós andamos com muitos cacos dentro.E cada qual vai fazendo as colagens possíveis, para adiar a inexorável ruína final.
Como eu sinto a urgência do final do poema!
Este final patético calou fundo dentro de mim.
Abraço,
Manuel
Abraço, sempre. Mas abraço inteiro, que ele há coisas que não se partem.
De ti já não sei esperar menos, mas hoje ao ler-te quase me emocionei. Muito bem Daniel, este texto está tão, tão bom.
Beijinhos, Cecília.
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