© DA.
Família
merendando cervej’amendoins com tremoços na esplanada de fórmica negra. Os dois
petizes lambem cones de gelado baunilha-morango. Quadro aprazível ao olhar de
lápis. Casamentos, há-os ainda que se mantêm. Hermínio di-lo a Delfim. Delfim é
casado & revoltantemente feliz com a única mulher da sua vida. A quietude
campeia neste rincão da Cidade. A luz é de uma doçura perigosa aos diabéticos.
Andorinhas de Maio voejam obliquidades ziguezagueantes. Os cedros da
urbanização erguida há trinta anos, além, frapejam ao sabor eólico. Vai dando
já para que, ao entardenoitecer mesmo, Hermínio se descasaque, que em
mangas-de-camisa dê a pele dos antebraços ao manifesto. Uma menina brinca a sós
em seu palácio imaginário. Não tem seis anos de nascida. Um velho atrelado a um
cão, velho este também.
Matronas abarrotadas de mercearias evacuando a minimercearia local. Uma mulher de blusa
escarlate santamente fumando cigarrilha enquanto contempla a colina de Santa
Clara, lá onde a Rainha, Santa esta também. Hermínio respirando a ligeira
aragem, já para poente se arroxeiam as primeiras másculas. Um rapaz de
guedelhas cosmeticromadas portando uma litrada de coca-cola, pacote de
batatas-fritas, maço de Chesterfield, pão-de-forma, vinte páginas de fiambre.
Não
tarda se recolham a seus ignotos tugúrios as derradeiras aves da jornada.
Hermínio consumiu parte da finimanhã curriculumvitalmente respondendo a
anúncios de emprego(s). Como Pessoa na véspera da morte: “I know not what
tomorrow will bring.” – etc.
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Esta
ave leva o céu atrás do voo
Nenhuma
solidão se lhe compara
Há
muito tempo já que me não doo
Em
vez de rosto já só uso cara.
Dão-se
as boas-tardes os maus vizinhos
Curial
é suportar vizinhança
O
chulo vai ao bar, a puta dança
Por viver andamos todos mortinhos.
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