© DA.
Janta a sós
como templário desempregado de jerusaléns
Meia-litrada
de vinho, frango carbonizado, broa-de-milho
Além não
havendo, fica-se ele por aquéns
De que é
presa sem resgate, de pai-órfão-filho.
É em
churrasqueira à noite mais desertada
Arde a frio no
televisor uma qualquer futebolada
Deveria ter
mandado vir uma salada
Mas não mandou,
papou a seco & à garfada.
Combinou ontem
encontro com quem afinal faltou
Adormeceu já
tardito, pensando no desencontro
Adormeceu considerando:
Procurando, não encontro;
Desprocurando,
desconheço quem me desachou.
Ao todo,
quatro fregueses – amailo o jantante patrão.
Viu muito
disto em Lisboa, quando lá era eremitão.
Lá vai. Tudo já
lá vai, ó senhor meu (dele) Pai.
Dez euros. Paga.
Agradece o serviço. E sai.
Uma vez na
vida, Hermínio mente a Delfim:
Uma mulher cor-de-anis há
que me deseja.
Veste-se de
seda-púrpura & deseja-me.
Alongo ante
ela meu corpo branco inviolado.
E a acção
lactífera ocorre parte-a-parte.
Demasiado fora,
longe de mais,
o mundo não nos
adentra o tálamo.
Somos ali
par-em-um como por milagre.
Mil lágrimas
se nos seguirão, apartados.
Enquanto não,
floresço de fungo ao de leve borrifado.
Leite ela
mana de seus pedúnculos róseo-mamilares.
Conversamos quase
nada, tudo nos dizendo.
Minto-me-te, Delfim,
mas por pura púrpura o faço.
Essa mulher
emanada do leite em canteiro róseo?
Ela reside-me
em pulsão, de que a morte só me aliviará.
Em sua
solidão palaciana (um segundo-andar) toma porto.
Fuma longo
mentol, segura de seu reinado, calma sem mim.
Sonho-a em
meu quarto de caridade-social.
Acordo-a às
sete da matina, devemos separar-nos.
Ela labora em
pública repartição – eu, não.
Eu penteio-me
à pressa, coço-me, saio ursamente às ruas.
Não nos
acudiu qualquer filho sob salgueiros concebido.
Nenhum porvir
nos inscreve em lista que nos espere.
Mas é vero
que nos desejamos & almejamos?
Se te minto,
Delfim, então sim. Se não, então não.
A verdade é
tê-la eu desertado há décadas sem anagrama.
Ominosa rosa
me é ela tão-só agora, que tarde se fez.
Na noite de
cada manhã, algum perfume dela voeja, sim.
Mas mais a
sinto no quanto minto, sim, que ela não há.
Não há & não
é. Algum homem a devora este ano.
Não marcha
para nova, floresce todavia ainda em leite.
Não enverniza
as unhas, não se enlameia de cremes franceses.
É a papoila
de beira-ervado, a codorniz sem costas.
(Como te dizia, uma codorniz há que me voeja.)
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