Conversei com Rui Jorge Fernandes Pitua sobre realidades-alternativas:
versos-pensados, extraterrestres chegados do futuro a bordo do comboio da linha Coimbra-Figueira da Foz das 5h13m, pensões de aposentação adequadas às vidas laborais efectivas, a união Camilo-Plácido, algoritmos (ou logaritmos?), bifes feitos de jornais reciclados, eventualidade de tanto ele como eu termos acertado em cheio logo ao primeiro matrimónio, a possibilidade de Deus ainda nos não ter abandonado (coisa que é sabido o Diabo nunca ter feito). Homossexualidade de espécies animais que não meramente a humana, palpite total no euromilhões.
Rui Jorge confessou-me depois episódios relativos à mulher que mais amou.
Era Ermelinda, trabalhava no pequeno-comércio a que chamam tradicional, julgo que ali na Rua Adelino Veiga, o poeta-operário-dos-guarda-chuvas & áugure do associativismo sindical-laboral. Despenhava Ermelinda farta cabeleira acobreada, focava olhos verdes como esmeraldas à chuva, apontava ao infinito os mamilos duros à guisa de gumes de sílex, ossatura de navio singrando em mar manso.
Eu opus-lhe a mulher-da-minha-utopia,
Era Delmina, secretariava um escritório de seguros, julgo que ali onde a Fernão de Magalhães é acossada pelo Arnado. Delmina era de mui meã estatura, olhos negros como intervalos de estrelas, mamas pequenas & citrinas, pèzitos que nem maioridade para votar tinham.
Ficámos docemente amargos por tais reminiscências irrecuperáveis. Bebemos em conformidade. Ele convidou-me depois para cear, convite que declinei por sabê-lo quase tão mal de pecúlio quanto eu. Quedei-me a sós no derradeiro tasco, ali à face do estádio. Concebi alguma versalhada a propósito de inanidades, que, relida há pouco, me pareceu escrita por algum alienígena chegado em terceira-classe no comboio C/FF das 5h13m.
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