© August Sander
Esplendor da
sordidez dos domingos no deserto citadino. A mais degradada putaria – e, desta,
os chulos mais infectos. Amargura intransigente de estar vivo. Os domingos
consubstanciam & consagram o absurdo da vida do mais puro modo. Vielas avinagradas
a mijo de gato, bêbados sem tecto, órfãos & deserdados a preto-e-branco. Salões
da banha-da-cobra evangélica por muito lado. Heroína traficada em
crioulo-hip-hop. Algum par de nórdicos perdido neste dédalo de cortiça-souvenir.
É o exacto 28.º aniversário do passamento do Pai de Hermínio. O Tempo quieto
nesse acontecimento. Um casal perguntando a Hermínio a direcção da Igreja de
Santa Cruz. A vida em círculos. O pensamento, também. Histórias secas. Aridez dominical.
Raros turistas. Uma necessidade premente: lixiviar a existência. Demasiado cáustico,
o quotidiano às vezes poético. Como, ao menos por ilusão, derrotar o deserto?
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Persiste obstinadamente aquilo a que chamamos realidade.
Dei hoje, Delfim,
passos no sentido de uma possível auto-concertação.
Digo:
remediação material-laboral-remuneratória, que mal não viria.
Não sei. Sei muito
pouco. Tenho relido a minha biblioteca encaixotada.
Está bonito o
pré-entardenoitecer, a luz é gloriosa, não sufoca.
Falei com
três pessoas: duas senhoras & um cavalheiro.
Alimentei um
gato & cinco pombas, não me demorei na Baixa.
Tenho defronte
a noite – digo: dela, a impiedade.
(Assim é, que ora te não minto, bom Joaquim, perdão, Delfim.)
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