Aí está a
hora a que as velhas senhoras terminam seu chá-protésico.
Transige a luz,
o planeta range um pouco em seu eixo ingente.
No baldio que
pato-bravo algum ainda acimentou, coelhitos & melros.
Edifícios
dourados pelo pré-poente, a grande hipermercearia a sul.
Falatórios de
d-existentes não esmorecem renitentes.
Gaiteiros lá
muito antigamente vibraram a infância festiva.
Acho ter sido
Joan Manuel Serrat a cantar os títeres.
E Georges
Simenon a explicar a bruma de homens em canais nevoentos.
Telefonaram-me
hoje, evento que se me volve precioso.
Há anos de
mais ando com o aparelho no bolso, de/para pouco me serve.
Convites para
baptizados & casamentos, poucos/nenhuns hei já.
Para velórios
sim, agora que está em moda a cremação cinérea.
Gostaria de
cear com alguém que se con’fe’ver’sasse ouvindo.
Nada de
depois-hotel, esfuruncanço erótico, suor gemido, quinquilharias de pele húmida.
Alguém que se
escutasse conversando-se entre azeitonas.
E um pouco de
Mário Botas, Schiele, Osório, Pessanha.
Consulto sem
pressa nem demora as necrologias-de-pasquim.
Fotos-tipo-passe,
a idade, viuvez ou não, missa-de-sétimo-dia.
Também me
interessa a Liga dos Campeões, coliseu de rematadores.
Entretém-me o
absurdo-organizado, o IRS-ovelheiro.
Eis o instante
em que a Cidade nada pode fazer por ti.
Reina a
impiedade absoluta, as pessoas têm al que fazer.
A luz doura
ainda a encosta-norte da Conchada.
É bonito
sentir as matinées tardias da livre passarada.
Não penso
morrer sem estar sentindo que vivi alguma coisa.
Parafraseando
o grande Outro (1888-1935):
O
que em mim pensa está sentindo.
Não
penso morrer – nem viver dá assim tanto que pensar.
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