16/03/2022

REGISTOS CIVIS - 98

© DA.



Tempestivo - 98

                      





Luís Filipe, pai de Manuel, idos ambos já para-além.
Séculos de prática reiteram deles esquecimento-em-porvir.
É talvez uma paz que assim seja, sempre haja sido & a-ser.
Anónimos morrem em guerra(s), não vislumbro alternativa viva.

De possível a passível, Maria, vai sua distância não-bagatelar.
Linhas & linhagens sulcam navegantemente os documentos.
A finitude-perecibilidade não obsta à infinitude de hipóteses.
E a nossa incompreensão labora a favor de infinitos-paralelos.

E enquanto isto, viver vai sendo exercício tempestivo.
Em o corpo dando, homologam-se-nos pistas francas.
Aquela mulher que vi adormecida em um banco público.
Aqueles patos alegremente barafustando à flor do rio.

Acusações particulares (desamor, incumprimento de alimentos etc.),
ninguém está delas a salvo, a vida usa ser deletéria & antipessoal.
Por alguns instantes de euforia erótica, podes pagar toda a vida.
Ou então, que o Dr. Alzheimer te perdoa em género-paraíso.

Chegas ao sem-abrigo & doas-lhe roupa-de-trazer-por-casa.
Incorres em beato paradoxo, em incensante auto-santificação.
Nem cuidas se tu ou ele andam de grão-na-casa.
Tudo é mentira, autofraude, automi(s)tificação.

Imagens de uma cidade alheia tomam curso na pantalha.
Pouquíssima recuperabilidade de trechos, de pessoas nenhuma.
Obras então recentes, hoje escaqueiradas pela usança abrasiva.
Estatuária vandalizada, paredes sujas, alguma rara boniteza.

Rarefacção de rostos: são bem mais as raras caras.
Luís Filipe, pai de Manuel, sim, existiram, obraram.
E no entanto poucos, paulatinamente menos, os evocam.
Um passeio pela da Boa-Viagem e/ou Arrábida.

Maria, segue saindo-me cifrada a versejação.
É tenaz solilóquio, não tens de desculpá-lo ou incriminá-lo.
A pessoa marca & traça sem itinerário mais ou menos convulso.
Entretém-se deslindando quanto pode – nem sempre muito.

Assim é.
Assim é, Maria.
Assim foi, Luís Filipe.
Assim deixou de ser, Manuel.



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Canzoada Assaltante