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Ressuscitações - 95
Puníceo dilúculo roxeando
(ou seja: Nascendo violáceo o dia)
Com estas sílabas despertei hoje, quinta-feira, 10-do-3. Nada de grave ou, sequer, importante. Desestremunhei-me com chapadas de água fria nas fuças, cafeíno-nicotinei-me logo de seguida, de imediato pronto para as feéricas, as maravilhosas, as intrépidas & incríveis aventuras do meu quotidiano. Ou seja: terminei a leitura (que já se arrastava) do mui católico livrinho O Que É a Literatura?, de Charles du Bos (tradução portuguesa de Nuno de Bragança, ed. O Tempo e o Modo, Lx., 1961). Tirando uma sentença de Píndaro que algures neste caderno epigrafei, não aproveitei mais grand’espingarda de tal leitura – mas tudo bem, sigamos para Cem Páginas (ed. Liv.ª Bertrand, Novembro de 1945, tradução portuguesa & prefácio de Tomás de Gamboa), de Ernest Hello (França, 1828-1885). Charles du Bos: França, 1882-1939. Tanto Hello como du Bos – franceses. Um como o outro: fundamentalistas-católicos. Dois tolos, enfim. Mas é preciso lê-los para (a)podá-los.
Malaxando negrores & macaréus
(Amassando negrumes & ondas bravas)
Com estas sílabas despertei hoje, sexta-feira, 11-do-3. Nada de importante ou, sequer, agudo. Duchei-me de brusco modo, alongando-me em chuveirada morna & saponificando-me os refegos. Café feito de fresco, carregado de alcatrão & com uma tira de leite. Um dia de cada vez. Uma dia de cada voz. Fatia de pão-branco torrada à força de resistência-eléctrica. Língua de manteiga lambendo o miolo da torrada. Mais café. Pronto para a refrega. Entro em meu mesmo sistema de ordenamento. Manhã um pouco mais luminosa do que a de véspera: mais fulva a violeta. Coisa boa: tenho a tarde livre. Posso (& vou) aplicar essas horas a usos ledores. Não me falta documentação abordável. Há vocábulos disponíveis, ressuscitáveis uns, nascituros outros. É a minha vida – ou o que dela (des-re-)fiz.
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