© DA.
Mescla – 50
Somos pessoas distintas: por distinção pessoal, umas; porque enfim diversas entre si, todas. Cada um/a é de quotas solitárias. Constituição & dissolução são irmãs. Fernando Pessoa, por exemplo (maior) era uma sociedade-colectiva-em-nomes-individuais.
O egoísmo – antivirtude ou condição de sobrevivência? Nenhuma destas ou estas ambas? Parece fácil distinguir – a mim, não, não parece. Quando ante meus olhos mesmos vejo desfilar quanto fiz & desfiz, hum, não sei responder quê, nem porquê, nem para quê.
Interessa-me muito a mescla mais ou menos espontânea de elementos originalmente esparsos – e que a experiência vital/mental torna interagentes. Na Rua dos Sapateiros, o senhor Fernando Amável; o senhor Truman Capote em Wolcomb, Kansas.
Água, luz. Gás, condomínio. Capital-social. Património, matrimónio. Holmes, Watson. Quijote, Sancho. Pai, Mãe. X, Z. Cabimento, despropósito. Actividade, contemplação. Café, leite. Castang, Van der Valk. Georges, Jules. Simenon, Maigret. Trevas, seca.
Em espécie de ilha (istmo raramente), Jorge Margarido Vitorino Osório, 60 anos contados em Janeiro último. Carpinteiro de cordofones: exímio artesão. Oficina que de seu pai (carpinteiro de móveis pequenos) herdou. Nem mulher, nem filhos, nem irmãos. Um vago primo, algures.
Catarina & Guilherme – um matrimónio infeliz. Mais um. Liga-os um par de filhos, papéis assinados, sociedade comercial (microempresa). Desliga-os o resto, todo o resto: cores, pulsões, favoritismos, comidas, praias, tarecos, bibelôs – menos livros, nenhum deles lê.
Efeitos distintos, vozes de passaritos em euforia nupcial, quotas de 1 (um) euro, garantias para além da palavra-dada, está na posse de André Miguel Velindro Borges, um álbum de fotografias de 1984, não foi (ou foi?) assim há tanto tempo, mas – quantos mortos ali sorrindo, senhores.
Tomé Henriques Ruibarbo Níveo pergunta a Alice Maria Batoréu de Orla se ela-Alice, o mais tardar às quatro da tarde, lhe favoreceria um soneto, livre ou medido, de que ele-Tomé pudesse simular-se autor ante sua-dele-Tomé amada. Alice aquiesce:
Passando-se comigo coisa estranha,
indaguei dela aos ventos d’alboroto.
Semelha em mim o mui querer por minha
a pessoa de que és modo infinito.
Avenidas devasso, a sós sempre,
almejando um tal rumo feito pessoa.
Peito escancarado, espero que entre
por minha Betesga toda uma Lisboa.
Não passa o tempo por sempre ser hoje
o dia de te pensar repensando.
Mas passa o Tempo, o tempo que me foge
sem que momento teu venha chegando.
Este soneto visa provimento
de rumo, tempo & de um teu momento.
Sem comentários:
Enviar um comentário