33.
TRÊS OPÚSCULOS
PARA UMA
R-EXISTÊNCIA
Coimbra, (também)
segunda-feira, 20 de Abril de 2020
I
Resistem
por enquanto os fólios. Não as pessoas.
Joga
a Natura ao divertimento perene-caduco.
Ajuda
& Necessidades são nomes palacianos:
também
tal onomástica é divertida, ó Zé.
De
1826 a 1836, da Carta ao Setembrismo,
voltas
& reviravoltas, alhos & reviralhos.
O
grave Herculano. O taful Garrett.
Eça,
por nascer. Camilo, infante.
Bons
tempos para a meia-dúzia do costume.
Piolheira
para o resto da maralha.
Tragicómica
nação bonita, a minha às vezes Vossa.
De lareira acesa à sua dextra, Joel
lê um papel.
Coimbra, Ano-VinteVinte, tempo
baço, invernosa primavera.
Luz pergaminhada, por assim dizer.
O Costa Cabral foi o Péron cá da
parvónia.
As nossas Evitas eram espanholas
em bacalhau-encebolado.
De 1842 a 1846, vicioso consulado,
pernicioso, desconsolado.
Resistem por enquanto algumas
dignidades.
São cerce esquecidas, faz-se mato
o anonimato.
R-existir faz rir o Tempo, o
Granito, a Água, a Caca.
Arrota, que te levo a Aljubarrota.
Trabalha, que te porto à Batalha.
Calado, que te xingo no Chiado.
Que saber de um António Luís
Seabra?
De um Oliveira Marreca?
De um José Estêvão, o crisólogo
tão diserto?
A mim, que vale-de-lobos-rafeiros
te espera, Joel?
Rendilhadas pedras de pulverizados
mestres.
Afonso Domingues, de sideral
cinzel.
Nem o Saldanha te apanha.
Cristo sobrevoando o espadeirame
em Ourique?
Cuidado c’a padralhada &
c’a’scumalha chique!
Cimento & esquecimento.
A menina Man’ela vem hoje de
blus’amarela.
Menos duram os opúsculos do que os
crepúsculos.
E bem menos que aqueles &
estes os juvenis ósculos.
Anarquia, servidão, tirania,
paixão, respeito, agrura.
Em 1866, Alexandre casa-se com
Hermínia.
Passados 77 anos, volta Hermínia a
casar-se
– mas desta vez com Daniel, que
aos 77 morre.
Ainda alguns papéis (s)obram tais
efemérides.
Celeiro, adega, horta, fonte &
poço.
Pois que finado, não ficado.
Alexandre torna Hermínia viúva em
1877.
Daniel faz-lhe o mesmo em 1994.
Portugal tem grave vocação
gato-pingante.
Vamos dando importância a minúcias
afinal inócuas.
Somos tributários, bastas vezes
ingratos, de formosa gente anterior.
Exemplo: tinha 28 anos de idade,
ou nesse ano os completava,
o meu paterAvô, José Abrunheiro,
quando mataram o Rei.
Desconheço que terá ele meditado
sobre tal sangue.
Já o meu materAvó, Carlos dos
Santos, teria uns dois anos
quando James & Nora se
amigaram em Dublin
naquele 16 de Junho devindo épico
porque-sim, Bloom-sim.
Rostos vivos, restos mortais. E
outros liames que tais.
Tudo ardido a napalm. Tudo arde,
Conrad.
Arrozais, choupanas, bazares
chineses, sabujices corruptoras.
Armazéns devolutos, fábricas
aluídas, raridade até de chuvas.
Viena, aí por 1906, ou 1913, ou
até 1920, velho Arnold S.
Tanto nada para tudo ser tão pouca
coisa.
Brighton Rock, Moimenta da Beira,
Cádiz, Deauville.
Rui, Ronaldo, Rolando, Rodolfo
& Guedes.
Afonso X, dito O Sábio.
D. Dinis, dito muitas coisas.
Avô & Neto, pó & pó,
cinza-por-cinza.
A Lei não falha. A falha é perene.
E caduca a gente.
Nascer já é pandemia que chegue.
Aquele azul-de-Delft, bonito.
Aquele Vermeer da luz pela janela,
caramba.
Aquele coiso de Boliqueime, fóssil
fácil.
Anda mão do Diabo nisto, que nem Deus
nem mão nela.
Tanta maralha tristonha por não haver
missa plenária.
Alguns livros, uma pouca de pão,
espelhos-de-água bonitos.
Yourcenar & Rodoreda.
Ainda não é o fim, ele há tempo.
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