10/05/2020

VinteVinte - 27 (integral; NB: a subparte III já foi partilhada aqui no Canil no próprio dia da efeméride a que se refere)






27.

TRÊS LUCIFERAÇÕES

Coimbra, domingo (dito de Páscoa), 12 de Abril de 2020 (I)
Coimbra, segunda-feira, 13 de Abril de 2020 (II)
Coimbra, terça-feira, 14 de Abril de 2020 (III)




I

Ainda há, parece, dias que viver. Cada um que vier, digo. Uma das máquinas da casa, aquela a que copio manuscritos, dá sinais deletérios. Auto-deletérios, acho. É uma novidade – negativa, é certo, mas sempre é uma novidade, em meio a esta reclusão forçada por os tempos (viru)lentos hodiernos. Cada que um que vi(v)er, enfim.

Enfim, ficcionar sem falsear (de mais). Nem armar-me em paladino-prosélito de uma qualquer pretensa (& pretensiosa) Verdade. Pode haver fidelidade capaz de papel. Um livro em prosa anda há muito vencendo presença no que sinto necessário. Leio-o ainda em transparência. Já é mas ’inda não existe. Ou vice-versa, revertido o itálico.

Como árvores perenes, nomes & percursos convidam-me a suas sombras afinal lucíferas.

II

Por cá-pátria & pelo resto-do-mundo, continua o festim viral. As televisões espremem tal limão, gulosas, vorazes, glutonas, sensacionalóides. Tragicomédia de um género – o Humano – que se julgou sobre-natural (assim com hífen para não haver confusão quanto ao que quero dizer – e digo).

Leio António Osório. Leio Camilo Pessanha. Leio Cesário Verde. Leio Vitorino Nemésio. De facto, releio. Exumei os volumes dos ataúdes de papelão em que hibernavam. São ora a minha hora melhor – de manhã à noite.

III

FAZ HOJE 35 ANOS QUE ACONTECEU ALGO ESTRANHO NO VELHINHO MUNICIPAL DE COIMBRA, ALI AO CALHABÉ, NA 24.ª JORNADA: ACADÉMICA 1 - BENFICA 2 (14 DE ABRIL DE 1985)
                                             
Faz hoje, 14 de Abril de 2020, um quarto-de-século + uma década. Chiça!
Enchente no Municipal para o AAC-SLB da 24.ª jornada do Campeonato Nacional da I Divisão.
Entrei de borla com o cartão de estudante.
Só arranjei lugar - onde? Pois foi no marcador manual, sobre que, em domingos normais, um home’zinho ia pondo, a sós, os cartões numerados com o andamento do resultado. O andaime era diametralmente oposto à (então única) bancada coberta dos sócios-“doutores”-“sintéticos”, lá do lado da Solum portanto.
A malta topou o acesso às alturas e toca toda a trepar para a estrutura. O pior foi quando se comemorava um dos golos: já não me lembro se o do alto e louro dinamarquês Manniche (penalty para o 0-1), se o do Ribeiro a empatar para a Académica, se o do Pietra para a vitória forasteira. (Os guarda-redes eram o Marrafa e o saudoso Bento.) Com a agitação, tudo aos pulos e aos vivas, e zingas!, aquela porra descambou na diagonal, escaqueirou-se toda.
Há da partida vídeo-resumo
que não inclúi o desastre. Ninguém morreu, mas dezenas aleijaram-se. Fui um deles, num pé. Na altura, jogava à bola nos distritais: mas porra!, foi na I DIVISÃO NACIONAL que me lesionei! Eh eh.  No dia seguinte, fui às Urgências, ainda o Hospital era o Velho, lá ao pé de El-Rei D. Dinis.
35-anos-35, c’um caraças! Digam-me que não, que não pode ser. Ou então não digam nada, pronto.

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Canzoada Assaltante