37.
EM M(Ã)ELOPEIA
Coimbra, segunda-feira,
27 de Abril de 2020
Somos ilhas finitas rodeadas de
infinito por todos os lados. Não é preciso noticiário que no-lo reitere. A tudo
isto antes da morte podemos chamar vida. Há nomes piores.
Recebo telefonema de um dos meus
derradeiros Amigos (vivos). Gratifica-me muito receber dele a voz educada, a
ilustrada articulação silabante, a oratura que o unifica (& autentifica)
enquanto (inter)locutor. Estamos vinte minutos nisto: como dois pássaros gorjeando-se,
de remota árvore a longínquo telhado, novas não-postiças. Ganhei já o dia,
mal-acabada a manhã ainda.
Depois, BBC: banho, barba, canja –
tudo a quente. Restaurado, remoçado, refeito – dei rosto à Segunda-Feira: não a
outra face mas ambas. Ouço vozes gravadas (não imaginadas mas concretas, vivas
pela técnica): uma argentina & várias valencianas. Buenos Aires é nome
referido. Outros, mas de Espanha: Alcàsser, Valencia, Burriana, Cheste, Buñol,
Gandía, Altea, Cuenca. São vozes do século passado. A voz da pessoa argentina é
festiva; as das pessoas espanholas, trágicas. Aquela, é de concerto; estas, sem
conserto. Música maravilhosa, a do porteño; tristura agónica, a dos
valencianos. Entretanto, esse século morre, outro vem, este é – tudo a frio.
M(Ã)ELOPEIA
Mão morta
Mão morta
Vai
bater àquela porta
Mãe morta
Mãe morta
Entra
que te abro a porta
.
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