Vila Marini, em Coimbra (Calhabé)
17. APRAZÍVEL TEMA
Coimbra, quarta-feira, 13 de Abril de 2011
Retorno hoje ao aprazível tema do Amor para não ter de chamar fê-da-pê ao primeiro-sinistro de um país qualquer, seja ele quem for e da mãe de quem for. Os pés das mulheres bordam água-sandália pela Cidade iluminada (nada, nada). E lume e nada. Sei que se trata de um cabrão indecoroso, mas o Amor sobrepassa-o sem ser difícil. Estou vivo no século XXI, não sei que vai isto dar. Não tenho assento parlamentar. Serei uma laranja. A cabeça palpa o coração. O fê-da-pê é corruptor. Eu, não. Eu ando por aqui enquanto o pão me deixar que sim. Falei com o Joaquim, trocámos rosas verbais. Vejo pessoas de olhos bons, constantemente. Raparigas amaduradas la(c)tejam colos úberes. Rapazes manejam computadores portáteis com uma desenvoltura engraçada. Sim, o gajo é cabrão, como pôde alguma mulher ter tido filhos daquele leite. Comem atum conservado em óleo vegetal, os Portugueses, com batatas de cozedura, coitados: picam até cebola, só que não lêem Martim Codax ou João Roiz de Castelo Branco. O arvoredo ainda folheando páginas, como se nada fosse. E se um soneto me viesse, eu diria que:
As lentas mágoas do rio concorrem
ao sal do mar, ao sol do mar.
Amores hei eu tido, que me morrem
ao sal do sol, do mar, do mar.
Já fui menino, só que o destino
me tirou, breve, da tenra idade.
Idade terna, que em pequenino
já era p’ra ser eu desta Cidade.
Convoco os naufrágios e os afogados.
Eu vivo na sombra, entrego recados.
Ando aqui lobrigando mamas de mulheres.
O resto é o rasto, o que é que tu queres?
Calhando, digo eu, tu ’inda preferes
meninos tão velhos, rio-magoados.
Tínhamos, antigamente, jantares. Éramos de um mesmo sangue que a passagem do Tempo tornou outro – ou de outra cor. As louças pintadas à mão cercavam-nos de rosas e narcejas. A canela acudia à fervura láctea do arroz-doce. Quase tudo homens, só duas raparigas: a Mãe e a Irmã. O azeite verdejava a humildade das batatas. O bacalhau vigorava como um prémio de sorteio-taluda. A família estava toda viva, nada havia a recear. Lembro-me disso tão bem. Os meninos e as meninas dos irmãos não haviam ’inda nascido. Tudo era para ser: quase nada tinha sido.
As lentas mágoas do rio concorrem
etc.
Iço das pessoais catacumbas o leão da tristeza. Sou a clara sombra. Eu levanto frases das pessoas morais. Eu vivo disso e para isso. Sim, iço.
(Da Cristandade o peixe não me interessa.
Respeito o Camilo, mas prefiro o Eça.)
Coimbra, 12h17m do dia 13 de Abril de 2011: homem de camisol’azul atrelado a um cão amarelo-e-branco: na Rua do Brasil, em frente à Munich-2 (Vila Marini).