16/07/2010

Rosário Breve nº 163 - www.oribatejo.pt


O jornal a quem o trabalha

Sim, voltei a percorrer as páginas de anúncios dos jornais. Procuro trabalho(s). É quase só o que leio deles, aliás. Não me lembro de o jornalismo estar assim: tão reles, digo. Antigamente, a informação era interessante. Hoje, é interesseira, interessada e serve interesses. Não, não procuro trabalho no jornalismo activo. Deixei-me disso. Deixei-me disso porque a única coisa que tinha à venda eram os braços, não os olhos, não a cabeça, não a alma. Fiz bem em bater com a porta ao economato em que o “jornalismo” (com aspas pois, tem de ser) se tornou.
A minha utopia era esta e era simples: que os jornais pertencessem aos jornalistas. Como as escolas às comunidades que servem. Como as bancas de azeitonas, tremoços, nozes, pevides e chupa-chupas artesanais embrulhados em papel de seda às senhoras sentadas ante elas e que pelas praças do País causam aos nostálgicos como eu uma melancolia pueril.
Mas não. Os jornais não são dos jornalistas – nem os jornalistas se sentem dos jornais. Uns, estão ali pelo fim do mês. Outros, até ao fim do mês. É por causa das “sinergias”, dos “gestores”, das “económico-reses”, dos “lambe-pés”. É, é.
Repare-se nisto: notícias já não há – há “conteúdos”. Os suplementos de “sabores e saberes” são mais do que as mães. Notícias, reportagens de fundo? Está quieto, ó mau!
Acordei hoje assim, deu-me para isto, desculpai-me. Vou ali ao café do senhor Manuel e da dona Adelaide ler (à borla) o pasquim local a ver se os meus braços são precisos em algum lado. Duvido que. Mas se encontrar, darei notícia.

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Canzoada Assaltante