(Crónica nº 65 da série Rosário Breve, in O Ribatejo - www.oribatejo.pt, edição de 22 de Agosto de 2008)
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Não sei quem terá sido o caluniador que me bufou aos remotos “masters” da internet, mas é que todo o santo dia recebo na minha caixa de correio electrónico uma carrada de propostas farmacêuticas para aumento volumétrico do meu, digamos, “coiso”. E não só. A farmacologia da www. teima, ainda, em convencer-me a enveredar pelo azul: ou seja, pelo viagra, como se “isto”, afinal, já não fosse uma irrecuperável miniatura.
Está certo que devo ao Fisco, de momento, coisa de cento e picos euros. Mas também não era caso para isto. É verdade que na Lete do Central tenho um “cão” de quatro ginjas, dois bolos de bacalhau, meia grade de minis e um bilhete de raspadinha. Mas não era coisa que me fizessem.
Antes das novas tecnologias, a vida era muito mais fácil e muito mais gira e muito mais bonita. Era. Antigamente, a história só tinha duas hipóteses: ou era antes de Cristo ou depois dEle. Agora é tudo durante: durante www., que não sei o que quer dizer porque é letra que não aprendi em nenhuma cópia-caligrafia da minha primavera marcelista particular.
Sou um semi-órfão já madurote de 44 anos. Ainda não, portanto, me assaltaram nem o des-hastear da bandeira nem o falso azul do céu químico. Nã-senhor. Tenho feito o meu papel, geralmente nesta página até. Informo-me, oriento-me, frequento bares de gente desquitada, vou a apresentações de livros e a inaugurações de pintura, não me rio alto, quase nunca, sempre que algum presidente de câmara fala ou escreve: tudo na linha, cá comigo. Portanto, não merecia tanto entulho. Como diria talvez Hergé, faço o meu tintim. Não merecia era isto do correio electrónico, nem mereço nova oportunidade alguma para coisa, ou “coiso”, nenhum(a).
Que comigo, raspar por raspar, ou raspadinha por raspadinha, só se for na Lete da Central.
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